quarta-feira, 18 de junho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 26

Aqui fica mais um capítulo. Aquele que os "lagartos" ameaçaram não ler...

CAPÍTULO 26
SILÊNCIO, AQUI CANTA-SE O FADO!

“A saudade atinge a sua máxima expressão no fado,
a versão europeia dos blues”
Guia Globetrotter

Bairro da Lapa. Residência T2 de Josué e Esmeralda.
JC dorme profundamente no resto da noite e assim se mantém ao longo do dia seguinte. Só ao final da tarde desperta novamente para o mundo dos vivos.
Ergue-se do leito. Veste o roupão que estava pendurado num prego periclitantemente espetado na porta. Abandona o quarto e dirige-se à cozinha, de onde escapa o suave aroma a bifes de cebolada.
Esmeralda prepara o jantar. Josué Milongas aguça o apetite com um gin tónico Bombay.
- Então o nosso rapaz já acordou… - diz Milongas, desviando o olhar do fogão para JC.
- Quando bebemos, ficamos bêbados. Quando estamos bêbados, dormimos. Quando dormimos, não cometemos pecados. Quando não cometemos pecados, vamos para o céu. Então, vamos beber para ir para o Céu! – diz inesperadamente JC.
- Essa é que é essa, meu caro. E estamos a ficar especialistas em lógica, não é verdade?
- Logicamente – responde JC – e a propósito o que calhava bem agora era um “bloody mary”, que é fixe para curar ressacas e corpos moídos de pancada.
Milongas levanta-se para preparar a bebida e JC aprecia à socapa o belo rabo de Esmeralda, enfiado nuns coleantes calções de lycra. Aquele sexto sentido que se afirma todas as mulheres terem leva-a a virar-se na direcção de JC, detectando ainda o olhar apreciador do rapaz.
- Bons sonhos? – pergunta Esmeralda, com ar provocante.
- Bastante carnais, por sinal, minha amiga – responde JC – piscando-lhe um olho.
Milongas entrega a JC o “bloody mary”, uma tonificante mistura de vodka com sumo de tomate, umas pitadas de sal e pimenta, algumas gotas de tabasco, molho inglês e sumo de limão. Com gelo, claro!
- Obrigado, pá. Como é que chamas?
- Josué, Milongas para os amigos – diz este, apertando o bacalhau a JC.
- John Clone, JC para os ditos.
- Estavas bem f… quando te encontrei ali num beco escuro.
- Foi a resistência panamense…
- Meteste-te com esses gajos rijos de Linda-a-Velha City? Agradece a Deus. Devias ir a Fátima. Raros foram os que lhes caíram nas mãos e sobreviveram.
- Toda a regra tem excepção. Isto é uma regra. Logo, deveria ter excepção. Portanto, nem toda a regra tem excepção.
- Tu és filósofo ou quê? Pára lá com essas tiradas, que já enjoam.
- Deus é amor. O amor é cego. Stevie Wonder é cego. Logo, Stevie Wonder é Deus – diz Esmeralda enquanto coloca o tacho dos bifes com cebolada na mesa.
- Também tu, oh Esmeralda? Este ambiente está a ficar demasiado intelectual para o meu gosto – protesta Milongas.
JC levanta-se, abraça-se a Esmeralda, olham para o tecto, fecham os olhos e entoam juntos:
I just called to say I love you
I just called to say how much I care, I do
I just called to say I love you
- Juntar uma p… com um camone dá nisto! – diz Milongas, já constrangido com a situação.
Depois desta afectuosa cena, o trio junta-se à mesa e ataca os bifes com cebolada.
(Querem saber como se faz este saboroso prato? Peguntem ao Montez. Mas não se estiquem, porque os dotes culinários do nosso amigo ficam por aqui…).
Terminado o banquete, bebem uma aguardente CR&F Reserva e brindam aos prazeres da vida.
- Gostava que me contasses o enredo em que te envolveste, oh JC, mas tenho de ir cantar uns fados. Bora daí, para saberes o que é música à maneira, que não é essa foleirice do Stevie Wonder.
- Desinfectem-me da cozinha, que eu ainda tenho de lavar a loiça e ir fazer pela vida, que o arame não se ganha no sofá a ver telenovelas, nem a cantar o fado – ordena Esmeralda.
JC e Milongas saem de casa, descem à avenida 24 de Julho e apanham o eléctrico 18 para o Cais do Sodré. Aqui chegados, sobem a rua do Alecrim, passam o largo de Camões e entram no Bairro Alto, pela rua do Norte. Viram à esquerda para a rua das Salgadeiras e depois sobem a rua do Diário de Notícias, até à porta da tasca do Xico.
(Isto é que é informação de utilidade pública…)
Como é habitual, uma longa fila de pessoas à porta, entre as quais alguns estrangeiros em fuga às casas de fado mais turísticas, aguardam que o fadista termine a sua actuação.
Obviamente, o Milongas é da casa e não tem de se sujeitar à espera. Entra com JC na catedral do fado vadio e logo o João Roque lhes arranja uma mesa bem posicionada, próxima da zona onde se canta o fado.
Milongas só actua mais tarde. Por isso, pede umas minis para si e para o seu companheiro da noite.
Aproveitando o intervalo entre fadistas, JC conta então ao Milongas a sua epopeia heróica. Passa por cima de acontecimentos mais marginais à história e concentra-se na missão que lhe valeu o arraial de porrada e o seu abandono num beco da Lapa.
- Camandro, pá, estás feito ao bife! – avisa Milongas.
Com a lábia adquirida nos bairros típicos da capital do Panamá e do alto dos seus quase 50 anos de vida, Josué Milongas consegue despertar em JC alguns resquícios de patriotismo. Convence-o a mandar a Killing Quickly, Inc. às malvas e a declinar qualquer apoio à invasão castelhana.
- Para todos os efeitos, tu és panamense, caramba! Até o Escolari e uma bimba, que são brasileiros, torcem por nós. Tens de ajudar a briosa resistência panamense a rechaçar a ameaça.
- Tou nessa, companheiro. O País precisa de mim.
JC levanta-se, põe o punho fechado no ar, olha em redor e declama:
- “Meus companheiros cidadãos do mundo, não perguntem o que Linda-a-Velha City fará por vocês, mas o que podemos fazer juntos pela liberdade do homem”.
- Cala-te cabrão! Não vai mais cerveja para aquela mesa – insurge-se um cliente da tasca.
- Não ligues. Assim é que é falar, amigo. Tu és um cidadão do mundo. Tens de lutar pela liberdade – anima-o Milongas.
- Isso, isso, liberdade, liberdade! – concorda JC.
- E podes começar a luta patriótica com mais umas minis Sagres, que apoia a nossa selecção. Eu vou ali cantar o meu fadinho predilecto.
“Mas certa noite ouve alguém
Que lhe disse, erguendo a fala:
- Embuçado, nota bem:
Que hoje não fique ninguém
Embuçado nesta sala!
Perante a admiração geral
Descobriu-se o Embuçado
Era El-Rei de Portugal
Houve beija-mão real
E depois cantou-se o Fado”
Milongas põe a tasca ao rubro. O público aplaude entusiasticamente a magnífica interpretação do “Embuçado”, de João Ferreira Rosa.
Numa mesa do canto, um honorável capitão da Mui Ilustres e Honoráveis Capitães do Solstício de Verão acaba de mastigar uma rodela de chouriço assado, agarra no telemóvel e marca um número.
Quem será este honorável capitão que frequenta assiduamente a tasca do Xico? Para quem estará a telefonar? Estará a Rebecca a facturar mais, no prostíbulo do Monte Palatino, do que a Esmeralda, no Cais do Sodré? Irá o Slow Down abrilhantar o blog com uma gravação do “Embuçado”? Ou irá optar pelo Stevie Wonder?
Caros leitores, terão de ficar nervosamente a roer as unhas até ao próximo capítulo…
TO BE CONTINUED…

12 comentários:

Anónimo disse...

Prezado amigo!!!

Pensava eu que havias desistido desta sua intrépida aventura literária!!! Ainda bem que não!!!
Muito bem…o fado...os bifes de cebolada….o gin tónico e o santo remédio para as ressacas…
Acho que a rebeca ganha menos…que o Rjam prefere o fado …mas não deixaria de colocar o cego …. mas quem será este honorável??? Para quem estará ele a ligar???
Só mesmo no próximo capitulo …

jinhos

Anónimo disse...

Parabéns, Manuel.

Não há dúvida que continuas em forma. Levei um mês e meio para ler todos os capítulos até agora, mas valeu a pena.
Já faz mais de 25 anos que não lia nada teu, a não ser SMS, o que não tem a mesma graça.
Tinhas 4 leitores? Aumentaste 25%. Aguardo o próximo capítulo.

PS: É muito lisonjeiro da tua parte pensar que eu era o anónimo que por aí anda. Ele escreve muito melhor do que eu.

Anónimo disse...

Mais um roto! “Parabéns Manuel”, “Que bem escreves Manuel”, “Ai quem dera escrever tão bem”. Porra que daqui a pouco estão ao beijos como o Tom Hanks e o JC no Capítulo 21 desta apaneleirada novela. Onde é que eu pus os Vomidrine?

Anónimo disse...

Eu sou o outro anónimo que já cá anda há uns tempos, portanto nada de confusões.

Agora não posso deixar de concordar com o "recente anónimo",porque esta abordagem do João Afonso ao Manel é um pouco suspeita....daqui a pouco já temos histórias de cowboys na Serra da Estrela a abafarem-se uns aos outros.Malta, vamos lá manter este blog com alguma dignidade.

Anónimo disse...

Que grande trapalhada, agora guerra de ciumes entre anónimos, já não bastava esta história a atirar para o boiola.....vá lá tenham mas é juizo

Anónimo disse...

Cambada de frustadões é o que voçês são.
Ainda por cima cotas e ciumentos. O que vos havia de dar.....
Quem é este noviço de João Afonso??? Alguum D. Sebastião surgido do nevoeiro a pensar conquistar as massas????? ou será apenas mais um bobo da corte???? Além disso ainda junta as letras para depois soletrar. Onde já se viu um mês e meio para ler esta trapalhada.........

Anónimo disse...

Manuel,

Tens aqui uma pista. O anónimo conhece-me! É que assinei “J. Afonso” e ele descodificou para “João Afonso”.
Quanto à Serra da Estrela, não estou a ver. A minha memória também já não é o que era. Mas se não for confusão do anónimo, estará aí outra pista…..

Anónimo disse...

Olha para ele armado em CHIBO!!!
Manel isto, Manel aquilo.....
Ele demorou foi a escrever João. É dificil. Sempre são 4 letras para juntar........

Anónimo disse...

Eu cá não sou de intrigas, mas que esse tal de celsinho deve ter alguma coisa contra o outro de joão afonso, deve ter. Ah pois deve! É que a bicha está mesmo assanhada. Ui!

MANUEL JESUS disse...

A coisa ferve!!! Fico muito satisfeito por contribuir para uma magnífica troca de galhardetes entre os frequentadores do blog. Só vocês me fariam esquecer os "frangos" do Ricardo (caso não se lembrem, o gajo foi do Sporting e anda a enganar os espanhóis e um gajo chamado Scolari).
ANÓNIMA AFLITA: Eu cá não sou de desistir, minha amiga. Mesmo que estivesse a levar porrada de 11 alemães, levantava-me e continuava a apanhar chapadas.
JOÃO AFONSO: Obrigado pelo incentivo, camarada. Há 25 anos que não te dava cabo da paciência? Estamos a ficar velhos, verdade? Escusávas de elogiar a escrita do anónimo. Fica-te mal elogiar rotos!
Pois é, fica comprovado que o anónimo te conhece. Portanto, reduzimos o campo de opções aí para uns 5 milhões de portugueses e meia dúzia de estrangeiros.
ANÓNIMO A VOMIDRINE: Fico grato por saber que acompanhas as aventuras do JC. Ou, pelo menos, os capítulos ímpares. Então conheces o João Afonso, hein? Essa pista foi distração ou o Vomidrine tem efeitos secundários que afectam a tua clarividência?
O OUTRO ANÓNIMO: Vamos fazer um concurso para eleger o anónimo que vai receber o prémio de antiguidade?
Boa ideia, a dos cowboys na Serra da Estrela. Vou fazer um "casting" para seleccionar cavalos para os cowboys montarem. Depois aviso-te, para concorreres...
BACOUCO: Acho que esse nome não abona nada à masculinidade. Essa fixação em boiolas e ciumeiras é que é bastante suspeita. Será para disfarçar?
MENINO CELSINHO: Olha outro boiola armado em tonto! "Celsinho"? Não tarda andas a fazer depilação integral! Oh anónimo do Vomidrine: arranjas-me uma embalagem?

Anónimo disse...

Manuel,

Já pensaste que o anónimo pode ser o Luís? O gajo parece não conhecer o “pessoal de Linda-a-Velha”, mas conhece-me a mim. E depois com aquelas alusões a cowboys nas na Serra da Estrela, vê-se mesmo que o gajo está tão desfasado que nem percebe que por aqui ninguém viu o “Brokeback Mountain”….
Diga-se que não estava à espera que o Luís, a coberto do anonimato, não tivesse mais nada que fazer do que pôr em causa a masculinidade dos outros, chamando roto a torto e a direito. Será que ele está a passar por uma fase de menos pudjança? Deixa lá, anónimo Luís, nada que um comprimidinho azul não resolva. Dizem….

MANUEL JESUS disse...

JOÃO AFONSO: Esse Luís não é de certeza. O gajo não sabe deste blog. É exclusivo para malta pra'frentex!
Pode é ser outro Luís, que goste de ver filmes boiolas.