sábado, 28 de novembro de 2009

Black Eyed Peas - "I Gotta a Feeling"



Tenho um pressentimento ... que hoje à noite vai ser uma BOA NOITE!!!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Morreu António Sérgio (1950-2009)


O histórico radialista António Sérgio, o homem que foi a voz do "Lobo", morreu hoje de madrugada, aos 59 anos. A notícia foi confirmada ao PÚBLICO por Luís Montez, dono da rádio para a qual trabalhava actualmente, a Radar FM. Segundo Montez, António Sérgio terá morrido na sequência de um ataque cardíaco.
Nota do RJAM:
Tenho pena, recebi alguns discos que ganhei em passatempos da Valentim de Carvalho das mãos dele, quando era jovem, e sempre acompanhei e admirei o seu gosto musical e o seu percurso radiofónico (o "Som da Frente", por exemplo, era dos meus favoritos). Aprendi muito com ele, nessa área. Foste desta para melhor!
Deixo aqui um artigo antigo do MEC (Miguel Esteves Cardoso), sobre o António Sérgio:

Segunda-feira 17 Setembro 2007

Na madrugada deste último sábado
António Sérgio conduziu a última
emissão do programa “Na Hora
do Lobo” na Rádio Comercial, que
decidiu não o integrar na nova
grelha da estação. Os admiradores
assumidos só esperam que alguma
rádio sortuda se apresse a pôr o lobo
a uivar outra vez. E Miguel Esteves
Cardoso deixa aqui tudo dito.

António Sérgio nunca esteve
bem em qualquer estação de rádio.
Mesmo quando a rádio era rádio.
Porque António Sérgio é uma
estação de rádio andante e uma
estação não cabe noutra estação.
Para mais, é uma estação hostil
às outras, contra as quais exerce
uma guerrilha permanente. Mais
do que meramente ingovernável
– ou até uma oposição paciente
– António Sérgio e a indissociável
Ana Cristina Ferrão são um governo
em exílio permanente. E com uma
imperdoável agravante: é assim
que gostam. E é nisso que insistem
teimosamente. É lindo.
Os espanhóis da Prisa fizeram
bem em despedi-lo. Estando
livres de gratidão, memória ou
preocupações da representação da
boa música em Portugal, tiveram a
coragem que faltou aos antecessores
portugueses, ainda demasiado
constrangidos pelo reconhecimento
e pelo medo da superioridade
musical de António Sérgio.
É importante frisar que não é
de agora a tanga do mercado nem
o fado do fim da rádio. António
Sérgio só durou até 2007 porque
se recusou a ir embora. Desde os
anos 70 que agentes sorrateiros se
agacham atrás dele, tentando puxar-lhe
a cadeira, a ver se cai. Mas o
homem sempre esteve ocupado de
mais para reparar. Fincou os pés,
sacou dos discos e fez o que sempre
fez: o que lhe estava na real gana.
De resto o desprezo pode ser a mais
bela das distracções.
Ajudou também o facto de
António Sérgio ser o melhor
divulgador de música popular
do nosso tempo - John Peel era
magnífico mas tinha lapsos de gosto.
Muito se perdoa a quem escolhe
música boa tão bem, durante tanto
tempo, com tanta arte e tanta
inteligência.
A música de António Sérgio é a
melhor e está tudo dito.
Claro que é preciso gostar de
boa música – e de querer descobrir
boa música nova – para perceber
a grandeza e a utilidade brutal de
António Sérgio. A nostalgia é um
argumento inimigo. Hoje há muito
mais música boa e muito mais
música nova do que nos anos 80 ou
60. Mas continua a ser 0,1% de toda
a música que se faz.
Essa proporção continua a
mesma. O que mudou é a atitude
geral da população. Dantes, a
ignorância inibia e produzia
falsos respeitos por quem se
suspeitava “ter conhecimentos”.
Havia seguidismos acéfalos e
dependências paralisantes, tudo
exacerbado pelas dificuldades e
desigualdades de acesso à música.
Havia mestres: era inevitável.
(“Mestres” no mau sentido, de
professorzinhos de província.) Na
rádio as directrizes dos mestres
eram obviamente inseparáveis
do acesso à música para que nos
dirigiam.
Não era bom – até porque
os mestres eram mais do que
muitos e geralmente pomposos
e autoritários, para não falar nos
vendidos. Mas é inegável que,
entre os pouquíssimos capazes de
descobrir e defender música boa,
o maior era e é António Sérgio.
Por definição é um anti-mestre,
desinteressado do tráfego de
influências e da concordância dos
seguidores.
Digo mal desse tempo - que
era também o meu – para poder
absolvê-lo do maior defeito
dos tempos de hoje, apesar de
serem musicalmente mais vastos
e empolgantes: o relativismo
ignorante. É ele que acaba por
explicar a atmosfera que leva à lata
de despedir António Sérgio.
Segundo o relativismo ignorante,
ninguém pode dizer se uma
música é boa ou não. É tudo uma
questão de gosto. Depende das
circunstâncias. Depende da idade.
Às vezes sabe bem uma coisa que,
noutra altura, sabe mal. Cada um é
como é e aquilo que agrada a um …
perdoem-me se me fico por aqui no
blá blá blá.
Tem ou não tem graça como
esta atitude coincide exactamente
com a conveniência comercialista
do cliente ter sempre razão; que
os números não mentem; que
os ouvintes é que sabem; que os
anunciantes é que pagam e quem
somos nós para dizer que não está
bem assim?
O pior é que esta humildade é
uma subserviência e este deixar
decidir, este respeito pelos gostos
dos outros, é uma gulosa cobardia.
Que vai acabar mal – porque
quanto mais a rádio se recusa a
ser minoritária mais as minorias
vão fugir dela. O problema da
massificação é que as massas
não existem para depois virem
agradecer o que se fez por elas.
A apologia do tudo-vale confunde-se
sempre com a santificação da
ignorância e daí até dizer que
António Sérgio sabe escolher
música tão bem como eu vai um
passinho. A verdade é que sabe
muito mais. Escolhe muito melhor.
Arrisca mais e engana-se menos. É
simples: António Sérgio sabe mais
de música popular – no sentido de
saber escolhê-la, que é o único que
interessa – do que qualquer outra
pessoa.
É por haver tanta música hoje
– e tanto acesso – que a sabedoria
selectiva de António Sérgio é
mais valiosa e necessária do que
nos tempos ditos áureos em que,
verdade se diga, não era assim
tão difícil separar o trigo do joio.
A música de António Sérgio é
como a boa música: não se deixa
interromper. É ele que não deixa. O
homem sabe o que vale e o que tem
de fazer. É escusado atravessarem-se
no caminho dele. O que menos
interessa é a estação de rádio.
A música de António Sérgio é a
melhor e está tudo dito.
Se calhar foi isso que custou
à Rádio Comercial engolir. Não
soube suportar o desprezo, talvez
por saber que o merecia. Às vezes,
quando existe uma pontinha de
vergonha, é desagradável ter,
mesmo ali ao lado, um exemplo tão
claro de dignidade. De estatura.
Desmotiva muito. Faz lembrar
coisas que conviria esquecer,
que atrapalham a marcha para a
capitulação final.
Vai ter sorte a estação de rádio
onde voltará a tocar a música de
António Sérgio. Mas que fique
desde já avisada que escusa de
tentar desviar a caminhada do
bicho. Em vão agitará no corredor
papéis com números de audiências
ou os amoques de focus groups.
É escusado implorar-lhe que oiça
“sem preconceitos” os CD de merda
que vos interessa impingir. Não vale
a pena atirar-lhe com a história dos
tempos terem mudado.
Os tempos sim; a rádio sim;
mas a urgência de descobrir e
defender a música boa é a mesma
de sempre. Ou maior ainda, dada a
massificação da própria desistência
de escolher e divulgar a música que
vale a pena.
E não há ninguém que saiba fazer
isso melhor do que António Sérgio.
Que não faz outra coisa desde
que faz rádio. Que não fará outra,
mesmo que tentem impedi-lo. Para
nosso bem – e, sobretudo, para bem
de quem ainda não se sabe quem.
Ou então não – nem isso é
preciso. A música de António Sérgio
é a melhor e está tudo dito. Haja
pressa em poder ouvi-la e saber dela
outra vez.