segunda-feira, 30 de junho de 2008

CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 28
O RITUAL DE INICIAÇÃO DE JC

“Eu tenho um passado muito negro”
Michael Jackson

AO e JC chegam à sede da sociedade secreta. Aproximam-se do grandioso portão em ferro forjado, encimado por uma sucessão de pequenas águias, com as suas garras cravadas em frágeis leões. É o tributo da sociedade ao grande clube panamense, campeão nacional de Futsal.
Uma sofisticada microcâmara de vídeo-vigilância, camuflada no olho da terceira águia a contar da esquerda, identifica a viatura e os seus ocupantes. Alguns segundos depois, o portão abre-se para um amplo jardim com palmeiras e outras árvores autóctones. No centro, uma fonte que jorra água gaseificada natural.
O Ferrari 512 TR imobiliza-se junto de um Aston Martin V12 Vanquish e de um Porsche Carrera GT. Um “follow spot”, que projecta a imagem da coelhinha, símbolo da Playboy, acompanha os movimentos dos recém-chegados.
- Porra, pá, parece que estamos na mansão do Hugh Hefner… - comenta JC.
- É uma cópia, com as coelhinhas e tudo, mas embalsamadas! – responde “Tonisca” Oliveira, recordando a célebre frase do magnata: "As três grandes invenções da civilização foram o fogo, a roda e a Playboy. Ninguém fazia sexo antes da Playboy. Nós inventámo-lo."
Abeiram-se da porta da mansão, construída no muito chique pau-rosa.
O aroma dos óleos extraídos desta árvore, usados no Chanel nº 5, liberta-se de duas piras fumegantes, que ladeiam a entrada.
Ouve-se, do interior, uma voz com um toque very british.
- Who’s there?
- It’s me! Open the fucking door!
Como certamente repararam, a senha e contra-senha foram substancialmente alteradas, como medida de segurança. A anterior era demasiado permissiva (Quem é? Sou eu!) e até os anónimos dos blogs conseguiam entrar. Agora, pelo menos, têm de saber falar inglês...
Aberta a porta, entram na sala de reuniões e juntam-se aos três honoráveis capitães, que já apresentam os olhos um pouco vidrados por terem emborcado uma garrafa e meia de Balvenie.
- Balvenie? Vocês tratam-se bem! – diz JC, olhando apreciativamente para uma garrafa meio cheia.
- Pois é, mas contentas-te com William Lawson’s, novo e martelado, que o Balvenie é só para honoráveis capitães que já foram iniciados.
- Vocês gostam mesmo de torturar um gajo… venha de lá então o William Lawson’s - pede JC.
- Julgas que isto é uma tasca? Não há William Lawson’s! Bebe uma aguinha, que é muito mais saudável.
- E posso comer uns amendoins? – pergunta JC, levando a mão ao prato dos aperitivos.
- Um gajo que ainda não foi iniciado não pode comer amendoins. Comes tremoços e já gozas – diz um honorável capitão, dando uma palmada na mão de JC.
- Então onde estão os tremoços?
- Tremoços? Também não temos, porra. Não estás na Lapa, estás no bairro “in” de Atlantic Bel Air, caso ainda não tenhas percebido.
- E que tal se passássemos à cerimónia de iniciação? É só conversa e ainda não bebi nada – protesta JC.
- Agora é que o menino está apressado, é? Vamos lá então a isto. Vai vestir a túnica…
- Fosga-se meus, tenho mesmo de vestir essa merda amaricada?
JC leva uma lambada de um honorável capitão e é avisado:
- Ficas a saber que só um honorável capitão pode chamar maricas aos honoráveis capitães.
- Vocês gostam mesmo de arrear num gajo… Palhaços!
- Estás na resistência panamense, oh JC. Somos maus como as cobras. O fúcsia é só para enganar o inimigo. Aqui não há copinhos de leite. Só há um camarada que pode beber leite com sabor a morango e, para esse fim, teve de meter um requerimento.
É então explicado a JC em que consiste o rito de iniciação. Os honoráveis capitães proferem os princípios pelos quais se rege a sociedade e JC tem de responder “Juro”.
- O honorável capitão é um cidadão responsável, que bebe com moderação entre as 10 e as 12 horas e entre as 15 e as 18 horas.
- Juro!
- O honorável capitão comparece a todos os jantares ordinários mensais e a todos os extraordinários que forem marcados com 24 horas de antecedência. E come sempre com alarvidade.
- Juro!
- O honorável capitão mantém um comportamento socialmente aceitável apenas às segundas, quartas e sextas-feiras. E isto se o Benfica ganhou no domingo anterior.
- Juro!
- O honorável capitão não participa em eventos contrários à sua situação de macho, como casamentos, baptizados, passeios ao pôr-do-sol, concertos de boys-bands, descidas do rio em canoas, acampamentos de escuteiros e afins.
- Juro!
- O honorável capitão não pratica uma alimentação saudável, estando proibido de comer saladas, sopas, iogurtes magros e qualquer substância que contenha edulcorantes ou rotulada como light, incluindo a literatura do género.
- Juro!
- O honorável capitão dá uma tareia semanal à mulher, mesmo que viva em união de facto, ou à namorada. Se não tiver mulher ou namorada, aplica esta regra à vizinha ou a uma colega de trabalho.
- Juro!
- O honorável capitão não auxilia bombeiros, polícias, equipas do INEM e outras forças uniformizadas.
- Juro!
- O honorável capitão não vê telenovelas, comédias românticas, festivais da canção e desfiles de moda na televisão.
- Juro!
- O honorável capitão só entra na cozinha para comer e ir buscar uma cerveja ao frigorífico ou para perguntar porque raio é que o jantar não está pronto.
- Juro!
- O honorável capitão odeia espanhóis, estando-lhe vedado o convívio com os ditos e a presença naquele país, com excepção do eixo El Puerto de Santa Maria/Jerez de la Frontera uma vez por ano.
- Juro!
- O honorável capitão não dá qualquer ajuda a cidadãos com dificuldade de mobilidade, mesmo que seja só para atravessar a estrada. E, quando automobilizado, não pára nas passadeiras.
- Juro!
- O honorável capitão não deixa os filhos, sobrinhos, afilhados e outros familiares sobre os quais tenha algum tipo de ascendente praticar actividades pouco construtivas, como patinagem, badmington, natação, ping-pong, ler livros e ver séries infantis, artes e qualquer género de dança.
- Juro!
- O honorável capitão mete uma asneira em cada frase e está sempre pronto para a porrada.
- Juro!
- O honorável capitão não usa perfumes, cremes para o corpo e roupa da moda, não frequenta cabeleireiros e clínicas de beleza e de estética (nem precisa, porque já é belo por natureza).
- Juro!
- O honorável capitão não participa em blogues concorrentes ao LA Velha e, sempre que possível, espalha vírus nestes blogues.
- Juro!
- O honorável capitão só trauteia músicas aconselhadas pelo DJ Slow Down. E nunca, nunca mesmo, ouve músicos cuja raça ou opção sexual não estejam claramente definidas, como Michael Jackson ou George Michael.
- Juro!
- O honorável capitão não desdenha da túnica fúcsia, nem do hino da sociedade e evita conversas de teor intelectual nas reuniões.
- Juro!
- O honorável capitão está sempre disposto a matar e a morrer (se não puder fugir) pela sobrevivência de Linda-a-Velha City.
- Juro!
- O honorável capitão é um ser superior, inteligente, bonito, charmoso, ambicioso e capaz de desempenhar com elevada eficácia todas as missões que lhe são atribuídas (desde que não impliquem grandes sacrifícios físicos e mentais).
- Juro!
JC é então aspergido com umas gotas de Balvenie, apresenta uma tese oral de 20 minutos sobre a relevância do clássico “Garganta Funda” na formação sócio-cultural da juventude de Linda-a-Velha City na década de 1970 e enrola um charro de marijuana, que faz circular pelos camaradas.
- Já és dos nossos JC. Podes atacar o prato dos amendoins – diz um confrade.
Discute-se, então, a acção de contra-espionagem a desenvolver contra a Killing Quickly, Inc. e a necessidade de angariar fundos que sustentem as medidas delineadas.
- Estamos um bocado na penúria, oh meus honoráveis capitães. Gastámos a massa toda a comprar a sede. Os preços em Atlantic Bel Air estão pela hora da morte – informa o tesoureiro.
- E o Balvenie, os bólides e as túnicas made by Valentino também depauperaram as nossas finanças – diz o presidente do Conselho Fiscal.
- Quanto a isso não se preocupem, oh meus honoráveis capitães. Tenho um monte de guito no Banco de Macau, que posso colocar à disposição da resistência – refere JC.
- Assim é que é falar, oh meu mais recente honorável capitão.
- Mas isso implica viajar para Macau – alerta JC.
JC é informado de que a resistência tem um elemento infiltrado na Killing Quickly, Inc., que esta pensa ser um “killing” infiltrado pela corporação no aeroporto de Macau, mas que é um membro infiltrado pela Mui Ilustres e Honoráveis Capitães do Solstício de Verão na Killing Quickly, Inc., para se infiltrar no aeroporto de Macau.
Perceberam? Ou querem que faça um fluxograma?
E quem é o gajo que bebe leite com sabor a morango? Não sei se vos diga… Digo… não digo… um dó li tá cara de amendoim, tan tan tan tan, tan tan tan tan… Taram… Digo! É um honorável capitão que viaja com frequência para Paris. Já está! Disse!
TO BE CONTINUED…

sábado, 28 de junho de 2008

Pink Martini - "La Soledad"

Bebam um Martini, escutem esta bela canção e pensem nas férias. Os que puderem não pensem ... vão!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

PARA OS ANÓNIMOS QUE SE QUEIXAM DE NÃO MIÚDAS GIRAS NO BLOG 2





PARA OS ANÓNIMOS QUE SE QUEIXAM DE NÃO MIÚDAS GIRAS NO BLOG 1





Há por aí uns anónimos a queixar-se de que não há miúdas giras no blog. Embora discorde, aqui fica uma selecção. Não sei quem é o emplastro que aparece sempre nas fotos, mas tem bom gosto!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Hino do SLB, o MAIOR Clube do Mundo!

Palavras para quê?

Eric Clapton - "Cocaine"

Esta é cá das minhas. E sim, pode-se ouvir no Arroz Doce, na Rua da Atalaia, no Bairro Alto, bebendo um saboroso PNC. Ou onde quiserem... curtam.

Stevie Wonder - "I Just Call To Say I Love You"

Tomem lá o Stevie Wonder, esta não é das minhas preferidas dele mas se a Esmeralda e o JC gostam, quem sou eu para os contrariar. Ainda procurei o Stevie a cantar o "Embuçado" mas não encontrei mesmo...

Sérgio Braga - "O Embuçado"

Olá pessoal, estou de volta. Não é a Tasca do Xico no Bairro Alto mas é o Caldeiradas na Trafaria (passe a publicidade). Não é o Milongas mas é o Sérgio Braga (que também deve ser um milongas). Cá fica o registo, podemos ir fazer um jantar no Caldeiradas (não é que conheça mas gostei do nome).

sexta-feira, 20 de junho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 27

Este capítulo é dedicado aos "lagartos", por 5 razões:
1ª Para não boicotarem a novela
2ª Porque foram suficientemente espertos para despachar o Ricardo para Espanha
3ª Porque os gajos do FCP ainda são mais insuportáveis
4ª Porque é preciso respeitar as minorias
5ª Já não me lembro, mas também devia ser importante


CAPÍTULO 27
JC GANHA JUIZINHO, PARA NÃO APANHAR MAIS NO FOCINHO

“Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata
e, assim, não havia ataques. Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica.
O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra.
E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting,
coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem nascidos.
Eu até percebo que se dispare contra um sócio do Porto,
mas agora contra um do Benfica?”
António Lobo Antunes

Continuamos na tasca do Xico. Espaço acanhado. Mesas e bancos de madeira. O balcão do bar está ao fundo, do lado direito. Nas paredes, retratos de visitantes ilustres e de nomes do fado. Alguns cartazes. Muita gente de pé. Conversas ruidosas. Apenas interrompidas quando se canta o fado.
- Oh meu honorável capitão, estou na tasca do Xico e acabei de ouvir o belo fadinho do embuçado – informa “Tonisca” Oliveira, nome de código AO, através do telemóvel.
- Ligaste-me só para me dizer isso, oh meu honorável capitão? Estou a ver o filme “Suckers 7” e, com estas interrupções, fico sem perceber a história – diz o honorável capitão de serviço na sede da sociedade secreta.
- E é bom, o filme?
- A realização é fraquita, mas a actriz esforça-se e os diálogos são complexos. O que é que queres, oh honorável capitão?
- Ah, é verdade. O JC está na tasca do Xico.
- Tens a certeza?
- Tão certinho como os seguros que acabei de vender ao Manny Gonzalez!
- Isso exige uma reunião de emergência, oh meu honorável capitão.
- OK. Tenho de desligar, que vem aí mais um fadinho.
Enquanto o honorável capitão de serviço convoca a reunião de emergência, uma jovem fadista, de xaile negro, ataca mais um tema.
A conversa ao telemóvel, muito pouco discreta, chamou a atenção de JC, que reconhece AO como um dos seus sequestradores.
- Oh Milongas, está ali um gajo da resistência – sussurra JC.
- Ainda bem, que eu conheço o gajo e assim pomos já tudo em pratos limpos. Deixa só a artista terminar o fado.
Ouvem-se aplausos na tasca. Milongas vai ao encontro de AO e dá-lhe um bacalhau. Senta-se. Olha fixamente para ele. Coça a cabeça. Depois os tomates. Mira em redor. Volta a coçar a cabeça. Os tomates não. Volta a olhar para AO. Depois para a travessa de chouriço assado.
- Desembucha lá, oh Milongas, que me estás a pôr nervoso.
- Reconheces aquele mânfio que estava ali ao fundo sentado comigo?
- Agora dás-te com traidores! – exclama AO, ligeiramente irritado.
- Nada disso! Convenci o tipo a passar para o vosso campo.
Josué Milongas conta a AO que JC tem agora uma outra atitude, que pretende renegar a corporação do crime e ajudar a fazer a folha aos espanhóis. Que, no fundo, até é bom rapaz e está disposto a abandonar o mundo vicioso da alta criminalidade transnacional e entrar no bom caminho patriótico.
- Têm de lhe dar algum desconto. Teve uma juventude difícil. O rapaz nunca conheceu as planícies verdejantes da vida, só o castanho outonal e os rigores invernosos. Nunca convidavam o gajo para as festas de garagem e isso teve um grande impacto na formação do seu carácter. Sempre o marginalizaram das idiossincrasias do grupo, que lhe teriam certamente moldado o comportamento no sentido de uma maior interacção social e cultural, ajustando-o a um modelo mais virtuoso de vida, em conformidade com condutas quotidianas de elevada integridade, como aquelas que estão patentes e latentes nos cidadãos de Linda-a-Velha City.
- F…-se, oh Milongas! Não me ensinaram estas porras na Faculdade de Motricidade Humana…
- Vá lá, dêem uma hipótese ao JC – pede Milongas.
- Vou ver o que posso fazer, mas a nossa sociedade secreta é mais impenetrável do que a maçonaria, a opus dei, a literatura do José Saramago, a cabeça do Scolari e a prosa non-sense do Zef, tudo por atacado...
AO telefona de novo para a Mui Ilustres e Honoráveis Capitães do Solstício de Verão. Conta os progressos alcançados. Solicita a adesão de JC à sociedade. Obtém uma resposta evasiva:
- Teremos de avaliar esse novo paradigma à luz de eventuais dados adicionais que demonstrem a razoabilidade e exequibilidade da situação e no âmbito de uma análise mais sustentada da problemática.
- OK. Não te estiques mais, que já percebi. Vou-lhe perguntar se está disposto a vestir uma túnica fúcsia.
Milongas estende a mão a AO, para selar o pacto.
- Se pensas que te vou apertar a mão depois de coçares os tomates, vai ali ver se chove – avisa AO.
AO dirige-se à mesa de JC. Abraça o novo membro da sociedade. JC chora convulsivamente no seu ombro. Aceita redimir-se dos pecados. Faz profissão de fé nos objectivos da resistência panamense. Agora é que se torna num homem novo (este c… é um bocadinho inconstante, está sempre a fazer-se um homem novo…).
- Bom, já chega, que ainda arruínas a minha reputação aqui na tasca. Manda lá as glândulas lacrimais interromper a produção e porta-te como um futuro honorável capitão – pede AO.
Despedem-se de Milongas, abandonam a tasca e ainda fazem uma passagem pelo “Arroz Doce”, na rua da Atalaia, para beber um “pontapé na cona”, uma refrescante bebida de licor com cerveja preta. Ao som de “Cocaine”, do Eric Clapton.
Depois rumam à sede secreta da sociedade secreta, onde os três honoráveis capitães que não andavam nos copos se encontram reunidos secretamente.
E quem são os três honoráveis capitães que levam uma vida regrada incompatível com saídas nocturnas? Isso é que eu não vou dizer. Julgam que sou bufo, ou quê?
TO BE CONTINUED…

quarta-feira, 18 de junho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 26

Aqui fica mais um capítulo. Aquele que os "lagartos" ameaçaram não ler...

CAPÍTULO 26
SILÊNCIO, AQUI CANTA-SE O FADO!

“A saudade atinge a sua máxima expressão no fado,
a versão europeia dos blues”
Guia Globetrotter

Bairro da Lapa. Residência T2 de Josué e Esmeralda.
JC dorme profundamente no resto da noite e assim se mantém ao longo do dia seguinte. Só ao final da tarde desperta novamente para o mundo dos vivos.
Ergue-se do leito. Veste o roupão que estava pendurado num prego periclitantemente espetado na porta. Abandona o quarto e dirige-se à cozinha, de onde escapa o suave aroma a bifes de cebolada.
Esmeralda prepara o jantar. Josué Milongas aguça o apetite com um gin tónico Bombay.
- Então o nosso rapaz já acordou… - diz Milongas, desviando o olhar do fogão para JC.
- Quando bebemos, ficamos bêbados. Quando estamos bêbados, dormimos. Quando dormimos, não cometemos pecados. Quando não cometemos pecados, vamos para o céu. Então, vamos beber para ir para o Céu! – diz inesperadamente JC.
- Essa é que é essa, meu caro. E estamos a ficar especialistas em lógica, não é verdade?
- Logicamente – responde JC – e a propósito o que calhava bem agora era um “bloody mary”, que é fixe para curar ressacas e corpos moídos de pancada.
Milongas levanta-se para preparar a bebida e JC aprecia à socapa o belo rabo de Esmeralda, enfiado nuns coleantes calções de lycra. Aquele sexto sentido que se afirma todas as mulheres terem leva-a a virar-se na direcção de JC, detectando ainda o olhar apreciador do rapaz.
- Bons sonhos? – pergunta Esmeralda, com ar provocante.
- Bastante carnais, por sinal, minha amiga – responde JC – piscando-lhe um olho.
Milongas entrega a JC o “bloody mary”, uma tonificante mistura de vodka com sumo de tomate, umas pitadas de sal e pimenta, algumas gotas de tabasco, molho inglês e sumo de limão. Com gelo, claro!
- Obrigado, pá. Como é que chamas?
- Josué, Milongas para os amigos – diz este, apertando o bacalhau a JC.
- John Clone, JC para os ditos.
- Estavas bem f… quando te encontrei ali num beco escuro.
- Foi a resistência panamense…
- Meteste-te com esses gajos rijos de Linda-a-Velha City? Agradece a Deus. Devias ir a Fátima. Raros foram os que lhes caíram nas mãos e sobreviveram.
- Toda a regra tem excepção. Isto é uma regra. Logo, deveria ter excepção. Portanto, nem toda a regra tem excepção.
- Tu és filósofo ou quê? Pára lá com essas tiradas, que já enjoam.
- Deus é amor. O amor é cego. Stevie Wonder é cego. Logo, Stevie Wonder é Deus – diz Esmeralda enquanto coloca o tacho dos bifes com cebolada na mesa.
- Também tu, oh Esmeralda? Este ambiente está a ficar demasiado intelectual para o meu gosto – protesta Milongas.
JC levanta-se, abraça-se a Esmeralda, olham para o tecto, fecham os olhos e entoam juntos:
I just called to say I love you
I just called to say how much I care, I do
I just called to say I love you
- Juntar uma p… com um camone dá nisto! – diz Milongas, já constrangido com a situação.
Depois desta afectuosa cena, o trio junta-se à mesa e ataca os bifes com cebolada.
(Querem saber como se faz este saboroso prato? Peguntem ao Montez. Mas não se estiquem, porque os dotes culinários do nosso amigo ficam por aqui…).
Terminado o banquete, bebem uma aguardente CR&F Reserva e brindam aos prazeres da vida.
- Gostava que me contasses o enredo em que te envolveste, oh JC, mas tenho de ir cantar uns fados. Bora daí, para saberes o que é música à maneira, que não é essa foleirice do Stevie Wonder.
- Desinfectem-me da cozinha, que eu ainda tenho de lavar a loiça e ir fazer pela vida, que o arame não se ganha no sofá a ver telenovelas, nem a cantar o fado – ordena Esmeralda.
JC e Milongas saem de casa, descem à avenida 24 de Julho e apanham o eléctrico 18 para o Cais do Sodré. Aqui chegados, sobem a rua do Alecrim, passam o largo de Camões e entram no Bairro Alto, pela rua do Norte. Viram à esquerda para a rua das Salgadeiras e depois sobem a rua do Diário de Notícias, até à porta da tasca do Xico.
(Isto é que é informação de utilidade pública…)
Como é habitual, uma longa fila de pessoas à porta, entre as quais alguns estrangeiros em fuga às casas de fado mais turísticas, aguardam que o fadista termine a sua actuação.
Obviamente, o Milongas é da casa e não tem de se sujeitar à espera. Entra com JC na catedral do fado vadio e logo o João Roque lhes arranja uma mesa bem posicionada, próxima da zona onde se canta o fado.
Milongas só actua mais tarde. Por isso, pede umas minis para si e para o seu companheiro da noite.
Aproveitando o intervalo entre fadistas, JC conta então ao Milongas a sua epopeia heróica. Passa por cima de acontecimentos mais marginais à história e concentra-se na missão que lhe valeu o arraial de porrada e o seu abandono num beco da Lapa.
- Camandro, pá, estás feito ao bife! – avisa Milongas.
Com a lábia adquirida nos bairros típicos da capital do Panamá e do alto dos seus quase 50 anos de vida, Josué Milongas consegue despertar em JC alguns resquícios de patriotismo. Convence-o a mandar a Killing Quickly, Inc. às malvas e a declinar qualquer apoio à invasão castelhana.
- Para todos os efeitos, tu és panamense, caramba! Até o Escolari e uma bimba, que são brasileiros, torcem por nós. Tens de ajudar a briosa resistência panamense a rechaçar a ameaça.
- Tou nessa, companheiro. O País precisa de mim.
JC levanta-se, põe o punho fechado no ar, olha em redor e declama:
- “Meus companheiros cidadãos do mundo, não perguntem o que Linda-a-Velha City fará por vocês, mas o que podemos fazer juntos pela liberdade do homem”.
- Cala-te cabrão! Não vai mais cerveja para aquela mesa – insurge-se um cliente da tasca.
- Não ligues. Assim é que é falar, amigo. Tu és um cidadão do mundo. Tens de lutar pela liberdade – anima-o Milongas.
- Isso, isso, liberdade, liberdade! – concorda JC.
- E podes começar a luta patriótica com mais umas minis Sagres, que apoia a nossa selecção. Eu vou ali cantar o meu fadinho predilecto.
“Mas certa noite ouve alguém
Que lhe disse, erguendo a fala:
- Embuçado, nota bem:
Que hoje não fique ninguém
Embuçado nesta sala!
Perante a admiração geral
Descobriu-se o Embuçado
Era El-Rei de Portugal
Houve beija-mão real
E depois cantou-se o Fado”
Milongas põe a tasca ao rubro. O público aplaude entusiasticamente a magnífica interpretação do “Embuçado”, de João Ferreira Rosa.
Numa mesa do canto, um honorável capitão da Mui Ilustres e Honoráveis Capitães do Solstício de Verão acaba de mastigar uma rodela de chouriço assado, agarra no telemóvel e marca um número.
Quem será este honorável capitão que frequenta assiduamente a tasca do Xico? Para quem estará a telefonar? Estará a Rebecca a facturar mais, no prostíbulo do Monte Palatino, do que a Esmeralda, no Cais do Sodré? Irá o Slow Down abrilhantar o blog com uma gravação do “Embuçado”? Ou irá optar pelo Stevie Wonder?
Caros leitores, terão de ficar nervosamente a roer as unhas até ao próximo capítulo…
TO BE CONTINUED…

quinta-feira, 12 de junho de 2008

CONTRIBUIÇÃO DE FANAM "GORDO" CARREIRA - PARTE 2






CONTRIBUIÇÃO DE FANAM "GORDO" CARREIRA - PARTE 1






Aqui fica uma contribuição do nosso amigo Fanam "Gordo" Carreira para o Album de Memórias. Penso que serão de 1984/85.

Adeptas pouco prováveis

Posted by Picasa

FESTA CHEZ MANEL 7 JUNHO 2008 - DIVERSAS 3






FESTA CHEZ MANEL 7 JUNHO 2008 - DIVERSAS 2






FESTA CHEZ MANEL 7 JUNHO 2008 - DIVERSAS 1






FESTA CHEZ MANEL 7 JUNHO 2008 - A JUVENTUDE PARTE 2






FESTA CHEZ MANEL 7 JUNHO 2008 - A JUVENTUDE PARTE 1






FESTA CHEZ MANEL 7 JUNHO 2008 - OS DOCES DA CLÁUDIA





FESTA CHEZ MANEL 7 JUNHO 2008 - AS CROMAS PARTE 2