segunda-feira, 28 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 38

CAPÍTULO 38
PARA VARIAR, ESTE É UM CAPÍTULO DO C…

“A invencibilidade está na defesa, a possibilidade de vitória no ataque”
Sun Tzu

Relativamente à questão que encerrou o capítulo anterior, os Serviços de Medicina Legal do Panamá acabaram de responder, numa carta pouco simpática.
“Seu escriba inergúmeno, fique sabendo que o corpo só será libertado para as devidas exéquias fúnebres após a realização da autópsia. No Panamá, as autópsias não se fazem às três pancadas e isto não é o CSI, seu estúpido do cacete! Neste momento, o corpo ainda só foi retalhado da cintura para cima e as avantajadas mamas estão a dificultar a operação. E dois técnicos sofreram queimaduras graves devido ao derrame de silicone. Se tinha como objectivo tecer, de forma subreptícia, críticas ao funcionamento destes Serviços, faça o favor de se dirigir ao governo, responsável pela falta de recursos. Junto para o efeito o formulário XKZ377D9, versão modificada pelo decreto-lei 314/2006, actualizada pelo despacho 499/2007 e corrigida pela circular 1723/2008, que deve ser preenchido em triplicado e remetido para a morada da Presidência do Conselho de Ministros, que fará o favor de procurar na lista telefónica, seu bosquímane desdentado. E fique a saber que acabei de o mandar para o c… das Caldas que tenho em cima da secretária.”
Passemos à frente. E é para isto que um gajo se desunha a pagar impostos…
Como vimos, os honoráveis capitães estão reunidos com o Comité de Segurança Nacional.
As últimas informações recolhidas pelo Comité revelam que os serviços secretos castelhanos lançaram uma oferta de compra no Panamá, para obter uma quantidade suspeita de artesanato das Caldas, para cima de 500 mil unidades.
Especialista em artesanato panamense, AA vê logo o filme e avisa:
- O que os gajos querem é enfiar bombas nos c… e depois mandá-los de volta para o Panamá, para explodirem no seio das nossas instituições, pois como sabemos, não há organismo governamental, nem repartição pública, que não tenha em lugar de destaque estas obras cimeiras da arte panamense. Até o Presidente da República comprou meia-dúzia, para expor quando recebe a visita do primeiro-ministro.
- Mas porquê? – inquire o comissário-chefe Chico Fininho, que não é o da Cantareira, esse é primo afastado e já morreu com uma overdose.
- Mas vocês andam distraídos, ou quê? Como os funcionários públicos e afins foram proibidos de insultar os cidadãos em público, quando a gente começa a dizer que eles não fazem um c…, olham-nos nos olhos e apontam para o c… das Caldas que têm em cima da secretária – explica AA. Vão-me dizer que não têm também um c… em cima da secretária?
- Ahhhhhh – pronunciam em coro os tipos do Comité de Segurança – então foi para isso que o ministro nos enviou uma data de c… com o símbolo da República Panamense…
- Eu até fiquei na dúvida se ele estava a mandar-nos para o c… ou a pedir que o mandássemos a ele para o c… - diz um polícia.
- Não sei c... Tenho de solicitar esclarecimentos superiores! – informa o comissário-chefe.
- Eu tenho um plano do c…! – diz AA.
A simplicidade do esquema deixa os polícias do Estado de boca aberta.
AA vai fazer aos espanhóis uma oferta de venda irrecusável, fazendo dumping no preço dos c…, graças ao cacau que JC transferiu para a off-shore nas Ilhas Virgens.
- E antes de lhes fornecermos os c…, armadilhamo-los com explosivos. Quando eles os abrirem, para lá enfiar as bombas, pumba, rebentam-lhes nas trombas. Os gajos nem vão perceber o que lhes aconteceu.
Dito e feito. AA viria a garantir o fornecimento dos 500 mil c… aos espanhóis, por um preço muito simpático, quase a custo zero. Os compradores nem suspeitaram, pois estavam habituados a comer os panamenses por parvos.
Não tardaram a chegar as notícias das agências internacionais. Com apenas algumas horas de intervalo, ouviram-se milhares de explosões por todo o território espanhol, desde La Coruña a Málaga, de Madrid a Barcelona. Foi tudo com o c…, disse um comentador da TVE, dando a verdadeira imagem da tragédia.
A Casa Real, o Palácio do Governo, a Assembleia Nacional e o Senado, as sedes dos governos regionais, a Guarda Civil e muitas, mas mesmo muitas, organizações governamentais e repartições públicas, incluindo a Federação Espanhola de Futebol e o Real de Madrid, implodiram em escassas horas.
Usando a sua qualidade de oitavo maior contribuinte para o orçamento da ONU e baseada na respectiva Carta, nomeadamente as suas atribuições no âmbito da manutenção da paz mundial e da protecção dos direitos humanos, Espanha solicita à Assembleia Geral das Nações Unidas que aprove uma recomendação para bombardear o Panamá.
No entanto, o país confrontou-se logo com a oposição do Panamá, que é membro eleito não-permanente da ONU.
- Só não vos mando para o c… porque já foram! – disse o delegado do Panamá ao representante de Espanha, rindo-se como o c….
Sucederam-se as críticas a Espanha, cada uma mais violenta que a anterior.
- Quem é que vos manda ficar agarrados ao c… no horário de expediente? – questiona o representante alemão, que já tinha ido para o c… na final do Euro 2008.
- Trabalhem mais e agarrem-se menos ao c… Se tivessem uma primeira-dama boa como o c…, como a França, ainda se admitia que os vossos c… explodissem – secundou o delegado gaulês.
Até Robert Mugabe aproveitou a onda de críticas:
- Obrigaram 500 mil a agarrar-se ao c… e eu é que não respeito os direitos humanos, é? Vão mas é para o c…!”
El Presidente Chávez virou-se para o rei e perguntou-lhe:
- “puta madre, y ahora por qué no te callas tú, pollo de mierda?”
Com o desbragamento que lhe é típico, Berlusconi comenta para os seus assessores:
- De tanto se agarrarem ao c…, qualquer dia estão a levar na bilha!
George W. Bush aproveitou para levar a água ao seu moinho:
- E querem vocês reduzir as emissões de dióxido de carbono. Ponham os olhos nos espanhóis. Vão mas é para o c…
Não seria preciso dizê-lo, mas, por via das dúvidas, informa-se que a Assembleia Geral da ONU vetou a pretensão espanhola e aprovou uma deliberação no sentido de propor à UNESCO que os c… das Caldas se tornassem património mundial.
Obrigado VJ/DJ Slow Down, pelo c… da inspiração, que constituiu a reportagem do c… sobre o artesanato das Caldas, postada no c… do blog lavelha, em 4 de Julho.…
O autor pede também um c… de desculpas ao Vomidrine, por não ter conseguido, num c… de um capítulo inteiro, enfiar tantos c… como num só c… de um parágrafo de “O Meu Pipi”.
TO BE CONTINUED...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 37

CAPÍTULO 37
DEFESA PANAMENSE SEGURA RESULTADO

“O orgasmo vertical é o que não é horizontal. E neste axioma da geometria libidinal cabe a história toda e o mundo todo”
Eduardo Prado Coelho

No anterior capítulo, Tatiana, que agora sabemos ser uma agente cubana, escancara-se toda, literalmente, a JC e desfia os seus segredos. Com a excepção de apenas um, a cereja no topo do bolo, ou, para os adeptos do alpinismo, a bandeira no cume dos 8.848 metros do Monte Everest.
- Só faltava dizeres-me que és transsexual… - comenta JC, coçando a cabeça.
- Admiro a tua perspicácia, meu doce!
- Ai o c… Há momentos em que não gosto mesmo nada de ser perspicaz!
- Como a quota para a admissão de homens na Academia Militar estava esgotada, decidi fazer uma operação para mudança de sexo. Consegui, com este artifício, entrar na Academia…
- Então e como reagiu a tua mãe?
- Não resistiu ao choque da minha opção. Suicidou-se, atirando-se para debaixo de um Buick no El Malecón.
- Mas tu és uma mulher perfeita – afirma JC, profundamente admirado – e os meus sentidos pêsames, já agora.
- Nunca ouviste falar dos milagres da medicina cubana? E, no fundo, eu sempre me senti uma mulher aprisionada num corpo masculino. A cirurgia apenas tornou realidade algo que já estava dentro de mim desde tenra idade. Não conseguia sequer suportar a proximidade dos seios da minha mãe. Pelo contrário, mamava desenfreadamente no fálico biberão.
- És um poço de surpresas, minha amada Tatiana. Mas tenho de te pedir um favor. Isso fica a ser um segredo só nosso e, claro, dos honoráveis capitães. São bem capazes de me gozar para toda a eternidade, mas devo-lhes total lealdade.
- Juro! Nunca o tinha contado a ninguém. Só a minha mãe o sabia. E o segredo morreu com ela naquela manhã fatídica no El Malecón.
Entretanto, as más notícias já chegaram à sede da Killing Quickly, Inc. Não, não se trata da transsexualidade de Tatiana, porque é segredo, mas sim da aniquilação do Steve Shithead e do contratado a prazo Zé das Osgas (da parte da mãe) e dos Anzóis (da parte do pai).
- Paul, Paul, meu c…! Mas que merda é que tu arranjaste em Linda-a-Velha City – irrita-se o presidente da corporação, John Verygood.
- Já sei, não te enerves. É que o JC teve ajuda de uma agente cubana. Estamos lixados!
- Lixados? Meu grande incompetente. Estamos é f… Vai mas é para a p… que te pariu!
- Não é precisares insultares a minha mãezinha, tá bem? Não a mistures com os negócios, pá. E olha que a tua também não é exactamente um modelo de virtudes e eu que o diga… até é demasiado plástica para o meu gosto.
- O que é que queres dizer com isso, c…? Mudemos de assunto, porque a tua mãe também dá umas cambalhotas valentes e eu tenho conhecimento de causa.
Os dois altos dirigentes da corporação do crime continuam na senda da descoberta de qual das duas mãezinhas evidenciava maior fogosidade extra-conjugal.
- OK, pá, empate técnico quando às cambalhotas das nossas progenitoras. Passemos à frente – sugere Paul Hitdogs.
- Mas quais progenitoras c…? Estás a desviar a conversa?
- Esquece, pá.
- Vamos mas é cancelar o contrato com os espanhóis. A “Operação Badajoz” que se f… - diz o presidente Verygood.
- Tens a certeza? Vamos ficar muito mal vistos internacionalmente.
- Caguei nisso. Vou-me reformar e trabalhar para melhorar o meu handicap no golfe. Os c… dos espanhóis que dêem conta do recado. Dantes, era o rei a dar-me na cabeça, agora tenho um sapateiro, que trabalha para o governo espanhol, a ligar de cinco em cinco minutos. Não tarda, começam a chover telefonemas dos cabeleireiros, dos decoradores, dos alfaiates e o c… que os f… a todos.
- Pronto. Vou dizer aos gajos para se entenderem sozinhos.
De Dallas, Texas, USA, a história avança, num passe de mágica, para Atlantic Bel Air, Linda-a-Velha City, Panamá.
Os honoráveis capitães encontram-se reunidos. JC e Tatiana estão presentes. Jamais uma mulher havia participado numa reunião da sociedade secreta.
No entanto, posta a questão a votação, considerou-se legítima a presença da agente cubana, porque a assembleia foi informada da sua antiga condição de macho.
Alguns membros mais renitentes renderam-se aos argumentos, quando Tatiana garantiu aos honoráveis capitães um fornecimento vitalício de Cohibas.
A sociedade acabou de saber, através do infiltrado MS, que a Killing Quickly, Inc. abandonou o teatro de operações. Agora, o Panamá terá, seguramente, de enfrentar uma invasão pela fronteira espanhola.
Rapidamente foram tomadas medidas. O seu especialista em comunicações móveis, AR, foi designado para controlar as ondas electromagnéticas. O seu agente destacado no Algarve, o MF, reputado perito em projectos de alta tensão, foi encarregado de espalhar os seus homens pela fronteira, disfarçados de postes de electricidade.
Esta acção provou-se sensata. AR detectou contactos suspeitos na rede móvel ibérica, com referências a uma equipa avançada espanhola que vinha derrotar os panamenses.
Um dos homens de MF assinalou a passagem, pela fronteira de Badajoz, de um autocarro da Federação Espanhola de Voleibol.
Ligados os dois factos, chegou-se à conclusão acertada, pois como diria Sherlock Holmes, “uma vez eliminado o impossível, o que quer que permaneça, por mais improvável que seja, tem de ser a verdade.”
Os honoráveis capitães fizeram uma apurada investigação sobre o calendário desportivo na internet e, graças a um programa de análise de probabilidades, identificaram o jogo particular Panamá-Espanha em voleibol, no Complexo Desportivo Internacional de Linda-a-Velha City, como sendo o fulcro da operação.
As autoridades foram alertadas e agentes à paisana ocuparam alguns lugares nas bancadas.
Tudo foi descoberto quando os jogadores espanhóis de voleibol entraram em campo, olharam surpreendidos para o pavilhão e perguntaram ao árbitro onde estavam as balizas. Isto e o facto de os gajos serem baixinhos, entroncados e entrarem equipados com uniformes camuflados, granadas à cintura e pistolas-metralhadoras na mão. Foram de imediato presos.
O Governo do Panamá confirmou, assim, a autenticidade das informações dos honoráveis capitães. E uma equipa de altos responsáveis do Comité de Segurança Nacional deslocou-se à sede da sociedade secreta, para, em conjunto, estabelecerem o plano de defesa da pátria.
Então e a Samantha? Nunca mais fazem o funeral da gaja?
TO BE CONTINUED…

segunda-feira, 21 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 36
INCLINADO NAS TARDES LANÇO AS MINHAS TRISTES REDES
AOS TEUS OLHOS OCEÂNICOS

"O internacionalismo consiste na solidariedade fraterna dos operários de todos os países na luta contra o jugo do capital"
Lenine

No capítulo anterior, JC e Tatiana decidiram dirigir-se para um bungalow, tendo ficado por identificar as razões de tal propósito.
Já no recato da cabana, instalada no areal e sob os grandes coqueiros e palmeiras, características de Linda-a-Velha City, JC põe a tocar o Bolero de Ravel.
- Oh JC, se pensas que vamos f… a ouvir essa merda é porque apanhaste muito sol na tola! – insurge-se Tatiana.
- A música é bestial. É do melhor que já se fez – responde JC.
- Recordo-me de ter lido algures que essa merda é “a monstruosidade mais insolente perpetrada na história da música. Do princípio ao fim dos seus 339 compassos, é simplesmente a repetição incrível do mesmo ritmo e, acima de tudo, o recurso ruidoso de uma melodia de cabaré esmagadoramente vulgar, que é um pouco do lamento de um gato desregrado de uma qualquer viela das traseiras”.
Não conseguindo encontrar o VJ/DJ Slow Down, para confirmar ou infirmar a tese de Tatiana, JC cede à reclamação, pressiona o “stop” da aparelhagem de som e é assim, sem qualquer música a quebrar o silêncio, que eles se amam loucamente, aventurando-se sem tabús nos mistérios dos seus corpos.
Muitas horas depois, os dois amantes abandonam a cabana e deixam-se cair no manto de areia, gozando os últimos resquícios de calor. E ficam, abraçados, saboreando a brisa marítima.
- Olha lá, Tatiana, as tatuagens no teu corpo deixam-me louco, mas a que há pouco descobri na tua púbis é o máximo…
- Gostas? É a serpente emplumada, Quetzalcoatl. Tatuei-a em honra de um antigo namorado mexicano, estudioso da civilização azteca.
- E todos os teus namorados tiveram direito a tatuagem? – pergunta JC, evidenciando uma ponta de ciúme.
- Todos não, só aqueles que foram capazes de levar o meu espírito a libertar-se do corpo, a atingir o nirvana. E foram poucos…
- Quatro, pelas minhas contas…
- Tens razão. O teu olhar é muito acutilante. Os caracteres japoneses na omoplata significam Monte Fuji, por causa de um namorado nipónico, que era um vulcão na cama. O golfinho no tornozelo foi inscrito para celebrar um antigo amante que se dedicava à arqueologia marinha.
- Então e a borboleta na nádega?
- Essa recorda-me outra grande paixão, um matemático chinês que escreveu um tratado sobre a teoria do caos. Estava num bar em Pequim e ele dirigiu-se-me dizendo: “O bater das tuas asas de borboleta tem o efeito de um tufão no meu ritmo cardíaco”. Foi amor à primeira vista…
- Será que um dia ainda vais tatuar-me, ou eu sou apenas um amante fugaz na tua intensa viagem pelo universo?
- Jamais te esquecerei, meu querido JC. Já estás irremediavelmente tatuado nas profundezas dos meus ventrículos.
- E posso ver?
- Não sejas tonto! Essa tua ingenuidade parte-me o coração.
A Tatiana é uma rapariga esperta e saiu-se bem do imbróglio. Talvez um dia JC venha a confirmar a veracidade da informação. Se for convidado para a autópsia…
- JC… - chama de mansinho Tatiana.
- Diz-me, doce ucraniana.
- Não quero que existam segredos entre nós.
- Conta-me tudo, meu amor.
- Eu não sou ucraniana. Nasci em Cuba. O meu pai é paraguaio e a minha mãe é russa, naturalizada chilena.
- Foi a isso que, verdadeiramente, Lenine chamou internacionalismo, eh, eh, eh.
Tatiana explica tudo a JC. O seu pai vivia na capital do Paraguai, Assunção, em condições muito difíceis, numa pobreza quase absoluta. Teve uma filha, que morreu de poliomielite infantil.
Os progenitores tentaram ultrapassar esse desgosto gerando uma nova criança, mas esta e a mãe morreram durante o parto.
Nessa altura, o pai estava desempregado, tinha sido despejado, por impossibilidade de pagar a renda da casa. Uma barraca nos subúrbios foi o tecto possível.
O pai, sozinho no mundo, toma consciência da necessidade de lutar por melhores condições para a classe trabalhadora e adere ao PC.
Mas, com a chegada ao poder de Alfredo Stroessner, em 1954, e o início de um longo período ditatorial, ele busca asilo político na União Soviética.
- Porra, meu amor, o teu pai era comuna?
- Já não gostas de mim?
- Claro que gosto, minha querida. Só não gosto é de comunas. As filhas boazonas deles até chupo. Mas como é que foste nascer em Cuba?
- Lembras-te da Crise dos Mísseis, quando os soviéticos instalaram mísseis nucleares em Cuba, em 1961? Foi o meu pai que os levou para lá.
- Era militar?
- Não, meu amor, trabalhava no cargueiro que fez o transporte.
Tatiana continuou a explicação. O pai acabou por fixar residência em Cuba. E encontrou emprego num hotel. Certa altura, o progenitor ouviu, quando estava de serviço, uma conversa entre dois agentes da CIA e percebeu que se preparava um atentado contra Fidel Castro.
Ele avisou El Comandante e este premiou-o com o recrutamento para a G2, a agência de espionagem cubana.
O pai de Tatiana é colocado na embaixada de Cuba, no Chile, como adido cultural, mas quando Pinochet e a sua junta militar assumem o poder, em 1973, ele regressa a Cuba. Mas não sozinho.
Leva consigo a namorada, uma bela mulher de Moscovo, que se havia naturalizado chilena e que vivia em Valparaíso, na vizinhança de Pablo Neruda.
Um dia, estavam o poeta e o futuro pai de Tatiana em conversa, saboreando um rum velho e um Cohiba, na varanda da vivenda de Neruda, debruçada sobre a baía de Valparaíso.
Aquela que viria a ser a mãe de Tatiana cumprimenta da rua Pablo Neruda e afiança:
- Este é o melhor pôr-do-sol do mundo, não acham? Esta foi uma das razões por que abandonei Moscovo, a minha cidade natal.
Logo ali, o pai de Tatiana fica rendido à voz doce da rapariga. E aos outros atributos visíveis a olho nu. Jura, um dia, casar com ela. Pablo Neruda haveria de aceder ao pedido do amigo e apresentar-lhe a rapariga.
E foi com um poema de Neruda que o pai de Tatiana se viria a declarar à futura mulher:
“Inclinado nas tardes lanço as minhas tristes redes
aos teus olhos oceânicos.
Ali se estira e arde na mais alta fogueira
a minha solidão que esbraceja como um náufrago.
Faço rubros sinais sobre os teus olhos ausentes
que ondeiam como o mar à beira dum farol.
Somente guardas trevas, fêmea distante e minha,
do teu olhar emerge às vezes o litoral do espanto.
Inclinado nas tardes deito as minhas tristes redes
a esse mar que sacode os teus olhos oceânicos.
Os pássaros nocturnos debicam as primeiras estrelas
que cintilam como a minha alma quando te amo.
Galopa a noite na sua égua sombria,
derramando espigas azuis por sobre o campo.”
- Eu sou fruto dessa relação apaixonada. Os meus pais casaram, eu nasci, o meu pai morreu pouco tempo depois. A minha mãe, bastante mais jovem, criou-me sozinha.
Consegui ser admitida na Academia Militar e, mais tarde, fui recrutada para a G2 e tornei-me espia.
- Mas que grande história. Estou verdadeiramente pasmado. E não me dizes o que te trouxe a Linda-a-Velha City?
- Os serviços secretos de Cuba descobriram que a Espanha tinha concebido um plano para invadir o Panamá, ainda por cima com a ajuda da Killing Quickly, Inc. Esta tinha estado envolvida na operação “Magusto”, para a invasão de Cuba.
- Aquilo da Baía dos Porcos, não é? Já ouvi falar…
- Como sabes, El Comandante não vai muito à bola com os espanhóis, os sacanas dos colonizadores de Cuba, e odeia os americanos, além de ter uma imensa admiração pelos valorosos panamenses.
- Ah sim? Mas porquê?
- Fidel Castro é um dos 34 Chefes de Estado entronizados como cancelários da Confraria do Vinho do Porto. E ele acha que, se os castelhanos invadirem o Panamá, vão transformar este magnífico vinho em xerez.
- Então o teu chefe grama vinho do Porto?
- Mais que gramar, como costuma dizer no seu círculo mais próximo, ele “granma” a bebida. Tás a ver em que nível é que ele coloca o vosso símbolo nacional… E só fuma um puro Cohiba com um cálice de vinho do Porto. Imaginas El Comandante a beber xerez?
- Pois não, isso seria mesmo muito pindérico!
- Foi por isso que ele me destacou para Linda-a-Velha City, incumbindo-me da missão de ajudar os valentes honoráveis capitães, embora de forma discreta. Mas ainda não te contei todos os meus segredos… Ainda falta um. E é esse que me levará a perceber, em definitivo, a dimensão do teu amor…
Bolas, bolas, bolas! Mas que raio de segredo é que a rapariga ainda consegue esconder? É um verdadeiro poço de mistérios… Vou ali ao fundo do poço e já venho. Conto tudo no próximo capítulo.
TO BE CONTINUED…

quinta-feira, 17 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 35

CAPÍTULO 35
A SUBIDA DO MERCÚRIO ENTRE COQUEIROS E PALMEIRAS

“Tom Cruise saiu à rua com um chapéu americano”
(nota: e o “jornalista” que escreveu isto devia ser proibido de sair de casa, com ou sem chapéu…)
“O guarda-redes da Selecção mostrou ter jeito para o golfe”
(nota: agora é que o Ricardo descobriu a sua verdadeira vocação? Não podia ter percebido isso antes do Europeu?)
Magazine Notícias TV

No final do anterior capítulo, Zé das Osgas preparava-se para abater JC, no Mil e Uma Noites.
O meliante contratado pela Killing Quickly, Inc. tem o nosso herói na mira da sua pistola. JC não tem fuga possível. Permanece hirto no meio do bar.
Se ele fosse um homem dado à religião, estaria a rezar as últimas preces. Não o sendo, na medida em que, como já vimos, tem paixões mais mundanas, como o sexo e o crime, o seu último pensamento vai para as quecas que ficariam por dar, para os castelhanos que não iria conseguir liquidar.
Naquele instante, o sorriso de Zé dos Anzóis desvanece-lhe nos lábios e é substituído pelo esgar da morte. O meliante cai, já cadáver, na alcatifa do Mil e Uma Noites.
Do outro lado da sala, Tatiana Bossanova permanece de pernas flectidas e braços estendidos, com a arma apontada, que segura habilmente com as duas mãos. Os seus belos e luminosos olhos verdes são agora duas miras frias e mortais.
Baixa a arma, liberta a tensão, abre a sua pochette Hermes Kelly e guarda a pistola, com uma calma impressionante.
JC respira de alívio. Aproxima-se. Tatiana esboça um sorriso, os seus olhos recuperaram o brilho. JC abraça-a, aperta os lábios contra os da bailarina. Beijam-se sofregamente.
Os poucos clientes aplaudem, contidos, porque são intelectuais. As bailarinas choram de emoção. O barman coloca uma fila de 20 pequenos copos no balcão, enche-os de vodka e consome-os em grande velocidade. No final, cai redondo e leva atrás de si uma prateleira inteira de garrafas. E ali fica, estendido, numa poça de álcool.
O porteiro entra, cambaleante. Olha para a cena com profunda admiração. Valeu-lhe o colete anti-bala, que, hoje, tinha vestido sob a camisa de seda, por insistência da sua Amélia, grávida de dois meses.
Nessa ocasião singular, o porteiro decide que se for menina chamar-se-á Virgem Maria e que, no caso de ser menino, o baptizará de Graças a Deus.
Tatiana Bossanova sai do Mil e Uma Noites, de mão dada com JC, tendo justificado a ausência ao gerente pela necessidade de ir dar sangue. Nem ela imagina como isso se poderá tornar realidade…
Um torvelinho de perguntas rodopia na mente de JC, mas ele não consegue concretizá-las. Habitualmente de verbo fácil, o nosso herói encontra-se agora em dificuldades para ordenar as ideias.
Tatiana revelou-se uma mulher cheia de recursos. Ele já tinha constatado a sua mortífera arte no varão, mas o facto de ela se ter mostrado uma atiradora excepcional faz calar a voz de JC.
Ele está igualmente aturdido pelos acontecimentos. Não é qualquer um que escapa, em poucos minutos e por duas vezes, de uma morte que parecia inevitável.
A surpresa face às qualidades letais de Tatiana mergulha-o em profunda introspecção. O silêncio pesado de ambos é compensado pelo som ritmado e agudo dos saltos altos da bailarina nas pedras da calçada.
Vão dormir, juntos, o sono dos justos. Tão certo como o sol voltar a raiar dentro de poucas horas, JC encontrará em breve a capacidade de verbalizar as suas interrogações.
Playa de la Cruce Ahora Arreglada. JC e Tatiana Bossanova dormiram até ao entardecer e passeiam agora na praia.
O sol põe-se no horizonte, projectando na beira-mar de Linda-a-Velha City os seus magníficos raios alaranjados. O mercúrio dos termómetros inicia uma descida, embora pouco acentuada. Os mais entendidos referem que estarão uns amenos 25 graus centígrados. Mas ninguém pode ter a certeza.
Os termómetros, cuja produção e instalação está entregue, em regime de monopólio, ao sobrinho do presidente da câmara, nunca funcionaram devidamente.
O jornal da Oposição mandou fazer análises ao mercúrio e publicou uma escandalosa reportagem, provando que, afinal, os termómetros funcionam a refresco de groselha e bastante aguado, por sinal.
O tal sobrinho defendeu-se, afirmando que o problema não é da sua responsabilidade, mas sim do aquecimento global do planeta.
- Todos sabemos que o planeta está a aquecer. Não são precisos termómetros!
Este seu argumento encontrou eco na Assembleia Municipal, cujo presidente já trabalhou na Suíça, como taxista:
- Experimentem pôr uma panela com água ao lume, deixem ferver, metam a mão lá dentro e vejam se não ficam queimados. Tudo o que ferve queima e tudo o que queima faz aquecer o planeta. E a culpa é dos termómetros? E a culpa é do sobrinho do senhor presidente da câmara? Por amor de Deus, não sejam demagógicos!
Foi instado pela Oposição a esclarecer melhor a sua posição:
- Diga-nos lá, seu pateta, o que é que o cu tem a ver com as calças?
- Tem sim senhor! – respondeu o presidente da Assembleia Municipal, dando umas palmadas sonoras no avantajado rabo.
- Toda a gente sabe que, neste particular, a culpa é do buraco da camada de ozono… - comenta um deputado municipal da Oposição.
- Vocês tão sempre a queixar-se, mas nunca colaboram! Digam lá onde é que tá esse buraco, que manda-se já tapar – desafia o presidente da assembleia.
- Deixe-se de tergiversações. A gente quer é saber porque é que os cidadãos não têm o direito de conhecer as temperaturas com rigor – insiste a Oposição.
- Esse problema não se coloca em Linda-a-Velha City. Nesta cidade, as temperaturas estão controladas, graças à superior gestão autárquica. Portanto, os termómetros servem apenas para decorar o mobiliário urbano. Termómetros a sério são um luxo e quem quiser usufruir deles deve pagar uma taxa – responde o líder da Assembleia.
- Apoiado, abaixo os burgueses que querem saber as temperaturas certas. A nossa temperatura é da melhor que há no mundo – gritou um cidadão muito parecido com o presidente da câmara.
Indiferentes a esta polémica, os pescadores da Playa de la Cruce Ahora Arreglada regressaram da faina e pode observar-se a sua azáfama na descarga da pescaria no dourado do areal.
Uma míriade de peixes saltita das redes e vem estrebuchar na areia límpida, encantando os turistas que saboreiam os seus frescos cocktails nas esplanadas que se estendem pela areia fina, banhada pelas cálidas águas desta cidade dotada de extensos areais.
Isto é capaz de ser areia a mais para um único ótócarro da Vimeca… mas o irmão do presidente da câmara, que é areeiro, pediu ao autor para promover a qualidade das areias locais, que exporta para todo o mundo.
O autor ainda balbuciou uma escusa, mas mudou de ideias quando o meteram num bote, o levaram para alto mar e começaram a fazer cimento…
Com o entardecer, começam a surgir, por entre as palmeiras e os coqueiros, os primeiros sons da música tradicional de Linda-a-Velha City, que substitui o canto das aves tropicais, dominantes durante o dia.
A música típica da cidade é uma fusão – um conhecido VJ dirá que é mais uma confusão… – de ritmos quentes, do blues e do funk, do cajun e do zydeco, da morna e do kizomba, de rumba, salsa e reggae.
Os corpos sentem a mudança e, embalados pela afrodisíaca música, iniciam um exótico bambolear, que se vai acentuar pela escaldante noite dentro, pelos bares e esplanadas que salpicam a praia.
Já pela madrugada, o suor vai fazer brilhar os corpos bronzeados dos autóctones e a pele escaldada dos forasteiros, iluminados pelo inesquecível luar que chama à paixão.
O suave aroma que enche o ambiente costeiro de Linda-a-Velha City é, aqui e ali, entrecortado pela exuberância olfactiva dos fluidos corporais excretados após redobradas horas de intensa actividade sexual, no recato dos bungalows, instalados sob os coqueiros e as palmeiras, na placidez das dunas dos areais dourados.
Com o evoluir dos raios solares para além do horizonte, o azul esverdeado do mar transmutou-se num espelho transbordante de brilhos do luar.
É neste cenário romântico que JC e Tatiana deambulam, há longas horas, até que decidem, finalmente, recolher-se num bungalow.
E que vão os dois amantes fazer para o bungalow? É na resposta a essa e outras questões que o autor vai dedicar as próximas horas… buscando inspiração numas deliciosas “margaritas”. E como não é um escriba egoísta, aqui fica a receita:
Juntar num shaker 40ml de tequilla, 20ml de cointreau (ou triple sec), duas colheres de sopa de sumo de limão (ou lima) e cubos de gelo. Agitar o shaker durante 20 segundos. Humedecer com limão o rebordo de uma taça de cocktail, e assentar o rebordo num pratinho com sal fino. Deitar na taça a mistura preparada no shaker. E depois beber, claro.
TO BE CONTINUED…

terça-feira, 15 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 34
“SHAKED, NOT STIRRED”

Fatima: Oh, sou tão desastrada. Molhei-te todo.
Bond: Sim, mas o meu Martini continua seco.
Never Say Never Again

Steve Shithead, o armário, recebeu, finalmente, instruções da sede da Killing Quickly, Inc. Deveria aguardar o desembarque de JC no aeroporto de Linda-a-Velha City, segui-lo e aproveitar a melhor oportunidade para o liquidar.
Marcado pelo seu anterior fracasso, o assassino está disposto a não cometer mais erros. Duas cabeças, quatro olhos e outros tantos braços, já para não falar em pernas e tomates, garantem maior eficácia.
Faz-se, assim, acompanhar por um meliante contratado localmente para o ajudar. Trata-se de Zé das Osgas, um verdadeiro pulha, com vários mandados de captura, que mata por contrato e tem fama de infalível no Panamá e arredores.
Porém, aquele que poderia constituir um excelente ensejo para assassinar JC, à saída do próprio aeroporto, e permitir arrumar logo a questão, é posto de lado.
É que JC abandona o aeroporto e apanha um táxi acompanhado pela comandante Marília. O armário considerou a situação demasiado arriscada e prefere tratar do assunto sem testemunhas.
Por isso, segue JC até ao seu destino, o já conhecido Flamingo Bay, na Ocean Drive.
O nosso herói e a Marília saem do táxi e dirigem-se ao bar do hotel, para tomarem uns martinis à maneira de James Bond, isto é, com vodka e “shaked, not stirred”.
Claro que ao barman, bastas vezes premiado em concursos internacionais de cocktails, não agradou a escolha.
- Sabe que isso é um erro tremendo? Que o correcto é preparar o martini com gin e stirred, not shaked?
- Você já escreveu algum livro de espiões? – pergunta-lhe JC.
- Nem por isso – respondeu o barman.
- Por acaso, é um Sir?
- Também não.
- Joga golfe?
- Isso muito menos!
- Então prepare-me lá o martini como eu pedi e deixe-se de modernices – exige JC.
Steve Shithead aproveita a circunstância para identificar o quarto em que se aloja JC e é lá que decide aguardar pela chegada do agente, para o matar, cumprindo a missão.
O seu ajudante fica a controlar o lobby do hotel, não se dê o caso de JC resolver ir passar a noite no leito de Marília.
Tomados os martinis, JC despacha a comandante, com a promessa de futuros voos. Explica-lhe que a vida de agente secreto é muito problemática, nunca se sabe quando é um gajo leva um tiro nos cornos, muitas viagens, longas ausências.
Mas ela não aceita a situação com fair-play, porque se apaixonou pelo agente e imaginava já o início de uma longa relação, estável e capaz de lhe proporcionar uma grande prole. Tinha até equacionado o abandono da profissão, para cuidar dos futuros rebentos. E o nome do primeiro estava já escolhido: Jumbinho.
- Não sei se será da natureza humana estar casado com alguém durante toda uma vida – diz-lhe JC, secundando a opinião de Brad Pitt, que lera recentemente numa revista cor-de-rosa.
- E eu li em tempos que a sorte do egoísta é viver sem preocupações e o seu castigo é morrer sem afectos – responde Marília.
- O teu problema é o jet-lag, oh Marília. Vai descansar, que isso passa.
- Bruto, ingrato, monstro, malcriado, animal, insensível, grosseirão, besta, cavalgadura, cruel, ordinário, maricas, cobarde, vomidrine… - Vai gritando Marília, saindo, transtornada, do bar.
JC suspira de alívio. Pode agora rumar ao seu quarto, para o combinado encontro ardente com a voluptuosa Samantha.
O agente entra no quarto e vislumbra o vulto nu de Samantha, adormecida na cama. Sorri, antecipando já uma fantástica noite de sexo. Aproxima-se, dá-lhe um beijo delicado nos lábios.
Sente um líquido viscoso com sabor ferroso que, imediatamente, identifica. Estremece. Analisa o rosto de Samantha com maior acuidade e repara no fino fio de sangue que se liberta dos lábios da mulher.
JC aprendeu a reconhecer a morte. Não lhe suscita qualquer dúvida a condição de cadáver da sua amada. Depois, distingue um pequeno oríficio na testa da mulher.
Todos os sentidos do agente ficam imediatamente em estado de alerta. Ele pressente o cheiro da morte. Ou talvez o fedor a suor, libertado do corpo de Shithead, que não toma banho há uma semana.
Seja pelo odor da morte ou da transpiração do assassino, os treinados instintos de JC levam-no, num movimento reflexivo, a voar por cima da cama e a aterrar no chão alcatifado.
O corpo de Samantha recebe um novo impacto e JC reconhece o silvo seco de um disparo com silenciador, que ele bem conhece.
Apercebe-se agora da aproximação do atacante, mas pouco pode fazer, visto que está desarmado. A sua mão direita, que havia deslizado para debaixo da cama, toca num objecto afiado. JC tenta agarrá-lo desesperadamente. Sem sucesso, na medida em que o seu agressor está já em cima dele, imobilizando-o e apontando a pistola à sua cabeça.
JC faz um derradeiro esforço para alcançar o objecto sob a cama. A batalha entre a vida e a morte encontra aqui o seu zénite. A pistola está a uns escassos 10 centímetros da cabeça do nosso herói.
JC debate-se furiosamente, mas prepara-se para a morte. Vê-a claramente nos olhos triunfantes do seu atacante, que lhe diz com voz de falsete:
- Já eras, meu! Come lá esta ameixa, que está madurinha…
Eis senão quando, num rápido movimento, JC crava o picador de gelo no olho esquerdo do armário, fazendo-o penetrar profundamente no crânio do assassino.
JC ergue-se, o corpo estremecendo devido ao esforço realizado, da tensão provocada pela descarga de adrenalina.
Recolhe a arma do falecido Steve Shithead, lança um olhar angustiado ao corpo sem vida de Samantha. Sente o desejo de a abraçar pela última vez, mas sabe que o tempo é um factor importante nestas situações, pelo que escapa a toda a velocidade. A despedida final da sua amada ficará para nova oportunidade.
À chegada ao lobby, JC identifica outro atacante e corre para o exterior do hotel, através de uma porta giratória, cujo movimento faz acelerar após a sua passagem.
Zé das Osgas tenta atravessar a porta, mas é envolvido no movimento rotativo desta e fica aprisionado, aos trambolhões, no seu interior. O meliante recupera rapidamente e a perseguição avança na rua.
JC ziguezagueia, escapando às balas que silvam em seu redor. A preparação física confere-lhe alguma vantagem, também reforçada porque Zé das Osgas está inferiorizado pela falta da dose diária de heroína. Facto que lhe embarga a mente.
Quando JC consegue alcançar alguma distância, pára, aponta a arma e aperta o gatilho. Nada acontece. A pistola está encravada.
A perseguição feroz arrasta-se pelas ruas escuras de Linda-a-Velha City.
JC procura um local para se enconder, tenta abrir as portas de vários edifícios, mas nenhuma lhe franqueia a entrada. Continua a fugir. O instinto de sobrevivência é mais forte do que o cansaço.
Distingue ao longe o néon familiar do Mil e Uma Noites. É nessa direcção que corre desenfreado. Abalroa o porteiro e entra no bar.
Zé das Osgas chega logo a seguir e, face à tentativa do porteiro de lhe barrar a entrada, dispara directo ao coração.
JC está agora no centro da sala. Não tem qualquer hipótese de fuga. Volta-se na direcção da porta. Zé das Osgas fita-o da entrada, tem a linha de tiro perfeitamente aberta e aponta a arma, com um sorriso vitorioso a iluminar-lhe o rosto.
Terá chegado a hora de JC? Irá o reptilíneo Zé das Osgas conseguir eliminar o nosso herói? É o que se saberá no próximo capítulo.
TO BE CONTINUED…

sexta-feira, 11 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 33

CAPÍTULO 33
A CRISE CHEGA À CORPORAÇÃO DO CRIME

“A mulher é um prazer ocasional, mas um cigarro é sempre um cigarro”
Groucho Marx

Dallas, Texas, USA, Killing Quickly, Inc.
John Verygood e Peter Hitdogs estão sentados, sorumbáticos, reflectindo sobre o desastroso contrato assinado com os espanhóis para a invasão do Panamá.
John Verygood tenta relaxar ouvindo no seu iPod “I got you”, de James Brown, enquanto se refresca com uma Coca-Cola. Peter Hitdogs rói as unhas e bebe um Ballantine’s. Do seu iPod sai o som de “Innuendo”, dos Queen.
A coisa está preta. Não por causa do Barack Obama, pois até contribuíram para a sua campanha. E para a da Hillary Clinton. E também para a do John McCain. Falta ali algo habitual em momentos de boa onda: uma garrafa de James Martin’s 30 anos.
Após mais uns minutos de silêncio opressivo, os dois dirigentes máximos da corporação do crime olham um para o outro, cabisbaixos, com os semblantes marcados pela preocupação.
- Os espanhóis devolveram a última factura – informa John Verygood – e já tive de aturar o rei ao telefone.
- The King? Himself?
- Pois! E o tipo nem me deixou dar explicações. Assim que comecei a argumentar, atirou-me logo com “por qué no te callas!”…
- Estamos tramados! O mercado já se apercebeu do nosso fracasso e há clientes a cancelar contratos – resmunga Peter Hitdogs.
- Vamos ter que cortar custos e, talvez, vender activos. Até já pensei em vender alguns pisos do edifício. Podíamos começar com o 241º e o 242º. O que é que achas?
- Sabes bem que essa história do edifício ter 250 pisos é só para consumo mediático e para os tontos que trabalham para nós terem motivo de conversa. Só temos 240… pá.
- Pois é, mas o mercado não sabe. Pomos os gajos do marketing a fazer uma bela brochura, com umas imagens trabalhadas em computador, vendemos, empochamos a massa…
- Então e quando os compradores quiserem ocupar os espaços? – pergunta Hitdogs.
- Mandamos a segurança enfiar os tipos na câmara criogénica… E voltamos, sucessivamente, a vender os dois pisos a outros lorpas, até esgotarmos a capacidade da câmara.
- F…-se, man, és um estratega do c…!
- Também podemos despachar um dos jactos. O Hugo Chávez já sabe que fui insultado pelo King e, num acto de solidariedade, ofereceu-se para nos comprar um dos aparelhos, acima do preço de custo. E paga em petróleo!
E é assim que, num ápice, fica resolvida a situação de crise. No mundo dos grandes conglomerados, não há pão para malucos. Nem lugar para posturas titubeantes.
Como afirmou Séneca, “nunca há vento favorável para aquele que não sabe para onde vai”.
E os dois dirigentes da Killing Quickly, Inc. não têm quaisquer dúvidas sobre o caminho para onde vão, que será o oposto ao de irem para o c…, destino mais do que provável se não solucionarem a questão do Panamá.
Por isso, John Verygood e Peter Hitdogs concentram-se agora no dossier da “Operação Badajoz”.
- Saberás tu por onde anda o c… do Steve Shithead? – questiona Verygood. (para quem já não se lembra, estão a falar do armário).
- Continua escondido em Linda-a-Velha City e telefona todos os dias a perguntar quando é que pode dar uns tirinhos. O homem está cheio de pica para a gatilhada.
- E a Rebecca? Já se encontrou com ele?
- O gajo não sabe nada dela, pá. Onde raio é que ela se meteu?
- Isso também eu gostava de saber c…! A namorada também não tem notícias dela e já me confidenciou que, se não receber um telefonema nos próximos dias, a vingança será terrível.
- As gajas são lixadas, pá – comenta Hitdogs – e que vingança será?
- Diz que se torna bissexual, transforma o apartamento num bordel e começa a organizar bacanais.
- A gaja é esperta – diz Hitdogs – lá diz o Woody Allen que “ser bissexual duplica as oportunidades de se conseguir um encontro ao sábado à noite”.
- Para a acalmar, até lhe disse que patrocinávamos a coisa. O que é que achas c…?
- Se patrocinamos, há décadas, todos os candidatos presidenciais, sejam democratas ou republicanos, também podemos alinhar nisso, pá.
- Pois, andei a ler o resumo de um manual de empreendedorismo e aprendi que, perante as crises, é preciso diversificar as actividades.
- Voltando à vaca fria, sem desprimor para a Rebecca, que até é bem quente, estou muito curioso sobre o seu paradeiro… - interroga-se Hitdogs.
- Ando a ler um livro sobre a Roma Antiga, que mete uma tipa que trabalha num prostíbulo do Monte Palatino e que põe os senadores todos malucos. Pela descrição dos seus atributos físicos, até podia ser a nossa Rebecca.
- Eh eh eh, essa tem graça. Ler até pode ser divertido. Um dia ainda hei-de ler um livro, pá.
- Mas tem cuidado c…, tens de ir devagarinho, começas por ler os folhetos dos supermercados, depois avanças para o manual de instruções de um aspirador, a seguir, com muita calma, experimentas ler o horóscopo. Quem sabe, se te esforçares, um dia poderás até conseguir usar uma Bimby…
- A conversa está muito elevada, mas temos de resolver a crise no Panamá. Para começar, temos de f… aquele filho da p…, o traidor do c… do JC.
- Para situações complicadas, decisões drásticas. Eu cá punha o Shithead a dar-lhe uma fogachada nos cornos!
- Rica ideia, oh John. Vê-se logo que és o presidente! Vou dar instruções para o Shithead agir em conformidade com essa sábia decisão. E depois?
- Depois, depois, tenho que pensar c…! Mesmo sendo presidente, não consigo ter ideias brilhantes todos os dias. O Thomas Edison tinha um QI de 240 e levou uma carrada de anos para inventar a lâmpada eléctrica…
TO BE CONTINUED…

Jim Morrison - "An American Prayer"

E agora ... uma cereja no topo do bolo!

U2 & Luciano Pavarotti - "Miss Sarajevo"

We MISS Pavarotti? Or MISS Sarajevo?

Queen - "Who Wants to Live Forever"

Eu. E tu?

Alice Cooper - "The Man with the Golden Gun"

Pronto, é só pedir que o VJ toca (VJ é um DJ dos tempos modernos, acrescenta os videos à música). Seus ignorantes!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 32

CAPÍTULO 32
TRIBUTO A SIR IAN FLEMING

James Bond: Quem quereria contratar a minha morte?
M: Maridos ciumentos! Chefes ultrajados! Alfaiates humilhados! A lista é interminável!
(007 – O Homem da Pistola Dourada)

As tríades informaram já a Killing Quickly, Inc. de que JC esteve no Banco de Macau e que escapou à perseguição que lhe moveram.
A corporação entrou de imediato em contacto com o banco e confirmou as suspeitas. JC transferiu o dinheiro para uma conta off-shore, sendo impossível seguir-lhe o rasto.
Estabelece depois contacto com o seu agente JA. Este admite que a chave do cofre com os códigos lhe tinha sido roubada, enquanto degustava um “Yam Tchá”, uma rica mistura de pequenos pratos da cozinha chinesa, no hotel Lisboa.
- Deve ter sido enquanto fui à casa-de-banho. A sopa de barbatana de tubarão deu-me a volta aos intestinos – justifica JA.
- Manias do c…! Não há nenhum saudável McDonald’s em Macau? – recrimina-o Peter Hitdogs.
A Killing Quickly, Inc. está agora segura de que JC os traiu de forma infame.
Assim que JA desliga o telefone, este toca de novo. Do outro lado da linha está JC.
- Armaste uma confusão do c…, oh meu honorável capitão. Eu não te alertei para as tríades? A corporação já sabe desta merda e eu tive de lhes dizer que me tinhas gamado a chave – diz de imediato JA.
- Fizeste bem! Não convém que eles percebam que estás feito comigo. Mas ainda preciso da tua ajuda para sair de Macau. As tríades devem estar a controlar o aeroporto.
- OK. Encontra-te comigo no jardim Lou Lim Leoc às 18 horas.
JC precisa de tomar banho e trocar de roupa. Está fora de qualquer hipótese voltar ao Venetian. Percorre sorrateiramente a zona do porto dos pescadores e entra no Central hotel, desconhecendo que é um dos locais de rodagem de “007 – O Homem da Pistola Dourada”.
O recepcionista da espelunca dorme profundamente. É o Nick Nack, o anão que trabalha para o vilão Scaramanga no filme do 007 e que ali faz uns biscates nos intervalos da rodagem.
JC rouba a chave de um dos quartos. Toma um rápido duche. Escolhe e veste algumas peças de roupa. A camisa havaiana, estampada com enormes 4’s de cores vivas, rodeados de brilhantes sóis, dá um bocado nas vistas. E o tamanho é dois números acima do dele, mas sempre serve para remediar a situação.
Só depois JC repara na ameaçadora inscrição em cantonense, a tinta encarnada, na parede: “ng sai lau hai do la faai di jau” (o que é que estás aqui a fazer, meu bandalho, pira-te já daqui). A mensagem está assinada: Roger Moore, 007, ordem para te f…
JC assim procede. Não por medo, mas por respeito ao grande actor. Abandona de imediato o quarto, fechando a porta com muito cuidado. Eis senão quando ouve um “pst, pst”, vindo do fundo do corredor. Trata-se do realizador Guy Hamilton, que anda por ali em filmagens.
- Lei bin a, wai, gwoh lai a (aqui, hey, chega aqui). És giro, oh rapaz, tens pinta de artista de cinema! – diz o realizador.
- Mas o que é essa merda? Não gosto de homens! Queres apanhar nas trombas?
- Não te enerves, pá. Sou o realizador do “007 – O Homem da Pistola Dourada” e estou a fazer um casting para substituir o Roger Moore.
- Mas porquê? O tipo até desempenha bem o papel, muito melhor que o emplastro do George Lazenby…
- Depois de muitos anos a escapar da Miss Moneypenny, o gajo engravidou-a, o M obrigou-o a casar com ela e deixou-me pendurado – explica Guy Hamilton.
- Até era capaz de alinhar, mas tudo depende de quem for a “bond girl”…
- É um pedaço, pá. É uma agente do MI6 chamada Mary Goodnight. É a Britt Ekland que a interpreta – responde o realizador.
- Não, essa não. Até gosto de suecas, mas essa andou a comer o Rod Stewart. Tudo tem limites, pá!
- É pena, oh jovem. Estou a ficar sem soluções. Um destes dias ainda temos de ir buscar o Daniel Craig para o papel de 007…
- Hai, ngo ming baak, ngo ming baak (sim, eu compreendo, eu compreendo), mas não contes comigo – diz JC.
JC despede-se, desejando os maiores sucessos para o filme e mandando um abraço ao baril do Sir Ian Fleming. Só depois recordou que este morreu em 1964, de ataque cardíaco, enquanto jogava golfe. E depois ainda dizem que praticar desporto faz bem à saúde…
Já na porta, esbarra com Alice Cooper, que entra desenfreado no hotel.
- Não me digas que vieste fazer um concerto em Macau? – pergunta JC.
- Deixa-te de merdas, oh meu calhordas! Tu és o Albert Broccoli ou o Harry Saltzman?
- Quem?
- Os produtores do filme do “007 – O Homem da Pistola Dourada”, meu c…!
- Não, não, eu sou apenas um “Agente Irresistível”. Estás chateado, pá?
- Claro que estou, oh palhaço! Fiz uma bela música para o filme e os produtores optaram por uma escocesa chamada, vê lá se dá para acreditar, Lulu…
- Esquece isso oh Alice. Se queres uma sugestão, manda os gajos bardamerda e inclui a música num álbum a que podes chamar, por exemplo, “Muscle of Love”. Vai ser um sucesso.
- Tá bem, tens razão, belo título, sim senhor – reconhece Alice Cooper.
- Live and let die, man – despede-se JC.
JC segue para o jardim Lou Lim Leoc, na estrada de Adolfo Loureiro. Foi mandado construir no século XIX por Lou Lim, um rico mercador chinês, e é actualmente local de meditação ao ar livre, onde pululam praticantes de Tai Chi e velhotes a passear passarinhos nas típicas gaiolas chinesas.
Chegado ao local, o agente acena a uma praticante de Tai Chi, que interrompe de imediato os movimentos e desata a fugir aos gritos.
Um pouco mais à frente, cumprimenta também um ancião, que passeia dois belos pássaros numa gaiola. O homem deixa cair a gaiola, diz algo que parece ser um insulto e afasta-se de JC, fugindo pelos campos de bambu.
- Bastante mal educados estes macaenses! – rosna JC – será da camisa havaiana?
JC encaminha-se para o local de encontro com JA, apreciando as carpas douradas e as flores de lótus que enchem um grande lago. Entra na conhecida ponte com nove curvas, que ziguezagueia por entre o lago.
Reconhece JA ao longe, do outro lado da ponte, levanta a mão e acena-lhe.
- F…-se meu. Vê lá se és mais discreto. Gostas mesmo de dar nas vistas. Não tinhas outra camisa para vestir?
- Mas qual é o problema? Foi o que se arranjou! Era do Roger Moore e é gira!
- Uma camisa cheia de 4’s gigantes, e bem berrantes, não é o melhor traje para andar pelo Oriente. Não sabes que o 4 é o número do azar para os chineses?
- Desculpa lá, não sabia – diz JC acabrunhado.
- Estás desculpado, mas põe a camisa do avesso, meu ignorante.
- Tá bem, pá, tem calma. Não achas que o gajo que construiu esta ponte devia abusar um bocadinho da aguardente de arroz? Já viste que está cheia de curvas? Ninguém lhe explicou que a menor distância entre dois pontos é uma linha recta?
- Mas o que é que tu lês nas horas vagas? A autobiografia da Jenna Jameson, é? A ponte foi assim construída para evitar os maus espíritos, que só se deslocam em linha recta, grande néscio.
Encaminham-se depois para um restaurante na zona do Mercado Vermelho. Enquanto degustam uma tradicional sopa de fitas, acertam a estratégia da fuga de JC.
JA tem um amigo na empresa que fornece o catering aos aviões. JC só tem de se encolher no carro do transporte das refeições e, quando este estiver na pista, entrar secretamente no avião que vai partir nessa noite para Linda-a-Velha City.
- Não deverá ser difícil, porque já conheces a comandante do avião – diz JA, com um sorriso cúmplice.
O plano é cumprido. JC consegue entrar furtivamente no avião e, com a colaboração da Marília, ocupa o lugar do co-piloto, que, como é habitual, dorme no porão.
A aeronave levanta voo com destino a Linda-a-Velha City. JC está a salvo. E desta vez não há sexo. O nosso herói está extenuado. A Marília está a braços com mais um processo disciplinar e tem de se portar bem nos próximos tempos.
De facto, há f… que têm um enorme retorno.
TO BE CONTINUED…

segunda-feira, 7 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 31
JC SABE NADAR

“No dia em que li que o álcool fazia mal à saúde, deixei de ler”
Jim Morrison

JC trespassa a imponente porta do Banco de Macau. O sol radioso obriga-o a colocar os óculos escuros Ray-ban. Começa a descer a longa escadaria.
Estaca no segundo degrau. Olha para a esquerda. Um dos orientais que encontrara no “Margaret’s” vem na sua direcção. Olha para a direita. Um segundo está parado a quatro metros e fita-o ameaçadoramente.
O que se aproxima pela esquerda põe a mão debaixo da camisa e saca um revólver. Antes de conseguir apontar a arma a JC, este puxa da Walther PPK e dispara. O tiro é certeiro. Bem no centro da testa.
O atacante da direita, agora com um punhal na mão, acerca-se de JC. Este recorre aos seus conhecimentos de Aikido, uma arte marcial que ele domina profundamente e que se baseia no aproveitamento do o movimento do oponente para o dominar.
Agarra-lhe o pulso armado, executa um perfeito tenkan, rodando o corpo sobre o pé pivot, e aproveita o ímpeto do adversário para o projectar para o solo. Imobiliza-o e, com a mão livre, em cutelo, aplica-lhe um atemi na fronte. O inimigo perde os sentidos.
JC põe-se de novo em pé. Uma bala quase o atinge. Ele olha para a parede que está atrás de si e localiza o local do impacto.
Quando um segundo projéctil é disparado, já JC executa uma sucessão de ukemis, rolamentos do corpo, até à beira da estrada, esquivando-se das balas que continuam a tentar abatê-lo.
Durante os rolamentos, JC observa a provável localização do atirador. Percebe que este se encontra no topo do edifício oposto. Estando este longe demais para o alcance da sua pistola, só resta a JC bater em retirada.
Atravessa a rua, correndo velozmente por entre os automóveis. Súbitas travagens chamam a atenção. O ruído de várias colisões sobrepõe-se ao estampido dos tiros.
A cabeça de um condutor de riquexó explode com o impacto de um projéctil, no momento em JC o contorna. Bem a propósito, um holograma do Freddie Mercury cai do céu a cantar “Who wants to live forever” e tenta suster a retirada de JC.
- F…-se! As tríades estão cheias de recursos – cicia o agente secreto.
JC entra na alameda perpendicular à avenida da Praia Grande e mistura-se com a multidão de locais e turistas que enchem o local. Vários transeuntes caem no chão, trespassados pelas balas.
Gritos lancinantes misturam-se com o som cortante de vidros estilhaçados, o estrépito dos tiros e o bruá da mole humana aterrorizada em fuga.
A multidão está em pânico. As pessoas correm de forma atabalhoada, atropelando-se, escorregando no sangue que sai às golfadas dos corpos. Aqui e ali, corpos esmagados pela turba ululante jazem imóveis na calçada.
A “Miss Sarajevo”, celebrizada pelos U2, arrasta-se pelo chão. Estende uma mão despedaçada e tenta alcançar o tornozelo de JC. Lança-lhe um apelo surdo, com o olhar, sentindo aproximar-se o beijo da morte, anunciado pelos frenéticos espasmos que lhe percorrem o corpo.
O agente ajoelha-se, ampara-lhe a cabeça, acaricia-lhe o rosto. Depois dá-lhe o tiro de misericórdia. No último espasmo, já JC reiniciou a fuga.
Quando consegue alcançar uma distância de segurança, ainda ouve os gritos de pavor que ecoam por toda aquela área. Mas ele não interrompe a marcha até chegar ao seu Toyota.
Um cidadão normal estaria neste momento apreensivo. A sua manobra de esquiva por entre a multidão tinha provocado, certamente, dezenas de mortos e feridos. Muitas famílias iriam ficar despedaçadas pelos acontecimentos.
Mas JC não é um cidadão comum. O seu treino de agente secreto mantém-no sereno perante a situação. Liga a ignição e acelera o automóvel.
Em simultâneo, inspira e expira de forma ritmada, contrariando a reacção do organismo, a hiperventilar. Rapidamente normaliza o fluxo de ar nos pulmões.
Olha pelo retrovisor. Um Mercedes já acelera em sua perseguição. A maior potência do veículo germânico leva vantagem sobre a viatura nipónica amiga do ambiente. A distância é cada vez mais curta. JC intensifica a aceleração até aos limites do veículo.
O carro perseguido começa a ser atingido pelos disparos, o vidro traseiro e o pára-brisas estilhaçam-se. JC continua, prego a fundo, a fugir a uma morte quase certa, mas o Mercedes continua a aproximar-se perigosamente.
Só a incrível habilidade de JC – aprendida em exigentes cursos de condução defensiva e agressiva na Killing Quickly, Inc. – lhe permite manter alguma, embora ligeira, distância dos perseguidores.
Graças a ágeis manobras, travagens de último recurso, acelerações bruscas, triangulações e derrapagens controladas, o Toyota vai forçando a passagem, por vezes em contra-mão, escapando nos limites a colisões frontais. As buzinas estridentes cortam o ar.
O automóvel perseguidor está quase colado à traseira do Toyota. O trânsito está interrompido um pouco mais à frente. JC vê-se obrigado a circular pelo passeio. A maior parte dos pedestres consegue desviar-se da máquina mortífera. Um ou outro é esmagado contra a parede.
Uma antiga bond-girl, que andava às compras, não é suficientemente veloz. O impacto do Toyota projecta-a para o habitáculo do automóvel. Mantendo apenas uma mão no volante, JC empurra com a outra o corpo da mulher, já sem vida, para o banco traseiro e prossegue a fuga.
Teri Hatcher, que já havia fenecido às mãos do vilão em “Tomorrow never dies”, volta a sucumbir às manhas do destino e encontra aqui, no Oriente, o caminho para o eterno além. E prova ser bem verdade que “You only live twice”.
O terminal dos ferries de Macau, rodeado de água, já está à vista de JC. Um tiro certeiro destrói um pneu traseiro do Toyota. A viatura derrapa descontroladamente. Está quase em cima do pontão. Dá-se o inevitável capotamento. Mas o efeito de inércia mantém constante a marcha do veículo.
A fricção do metal com o pavimento de betão provoca enormes chispas cintilantes, que inflamam o combustível derramado e transformam o Toyota numa bola de fogo. JC apercebe-se do perigo, mas nada pode fazer para contrariar a explosão iminente.
Porém, a sorte protege os audazes e, quando tudo parece perdido, o automóvel embate num cabeço de amarração, vacila periclitantemente na borda do cais e afunda-se nas águas.
Submerso, JC liberta-se do cinto de segurança e abandona o veículo. Nada para debaixo do pontão. Já nos limites da resistência, consegue emergir. Ofegante, ouve as vozes dos seus perseguidores e o matraquear das pistolas-metralhadoras que varrem as águas.
Após dois minutos, com a respiração de novo controlada, JC nada para a extremidade do pontão e alcança o ferry, que começa a afastar-se na direcção de Hong-Kong. Iça-se para dentro do barco e deixa-se cair, extenuado, no convés.
Os passageiros que se encontram mais próximos olham para o corpo de JC e começam a gritar. A visão assim o justifica. O nosso herói tem as roupas rasgadas, queimadas e manchadas de sangue. Alertados pelos gritos, os seus perseguidores ainda tentam saltar para o ferry, mas afundam-se nas águas. Alguns projécteis acertam na embarcação, mas não causam prejuízos que a impeçam de prosseguir a navegação.
Apesar de combalido, JC mantém a mente desperta. Antecipa que o ferry será agora perseguido pelas tríades, que utilizam tradicionais juncos, optimizados com potentes motores fora de borda, que os transformam em lanchas rápidas. E que, nestas circunstâncias, nunca conseguirá chegar a Hong-Kong.
Atira-se de novo à água e esgota as suas últimas energias nadando de regresso a Macau.
Chegado a terra firme, JC distingue, à distância, os juncos que já se preparam para abordar o ferry.
TO BE CONTINUED…

sexta-feira, 4 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 30

Vamos a isto que o Manny Gonzalez qualquer dia está de férias e o JC também precisa de descanso. Em princípio, a novela acaba em Julho (deste ano)... e não me meto noutra tão cedo!

CAPÍTULO 30
MUITO SEXO, MUITOS TIROS, MUITA ACÇÃO… E PASTÉIS DE NATA.

“A vida quer ser; a vida nem sempre quer ser grande coisa;
a vida extingue-se de vez em quando. A vida continua.
E muitas vezes continua de maneiras decididamente espantosas.”
Bill Bryson

JC encontra-se já no terminal de bagagens do aeroporto de Macau. Como viajou em executiva, a sua mala é a terceira a rolar no tapete. À primeira vista, ele não a reconhece, visto estar manchada com uma substância amarelo-esverdeada.
- O c… do co-piloto vomitou na minha Louis Vuitton – resmunga JC.
Depois de limpar a mala com as cuecas da Marília, que havia guardado no bolso para memória futura, encaminha-se para a saída, procurando o shuttle do hotel Venetian, sendo surpreendido por um gajo careca, de fatinho e gravata e com ar de director do aeroporto.
- “Um não sei quê, que nasce não sei onde…” – diz o sujeito compostinho.
- Vem não sei como e dói não sei porquê…” – responde JC.
(Não parece, mas isto é Camões no seu melhor. Os honoráveis capitães são tão cultos que até mete impressão).
- Estás fixe, JC?
- Nem por isso oh meu honorável capitão! Estragaram-me a Louis Vuitton…
- Deixa lá, que isso resolve-se. Compras outra. O que não falta aqui são cópias verdadeiras a preços fantásticos.
- De resto, o voo correu bem.
- Acabei de receber um “report” de incidente no teu voo. Esteve em risco de queda. Por acaso, não tiveste nada a ver com isso?
- Quem? Eu? Tás parvo ou quê?
- Toma lá a chave do cofre e põe-te a pau com as tríades.
- Não te preocupes, que trouxe a minha Colt M1911 e cinco caixas de balas calibre 45.
- Ainda usas essa merda? És um bocado arcaico, oh meu. O exército americano já a substituiu na década de 1980.
- Para um gajo habilidoso como eu, até com uma zarabatana os avio. E a munição 45 tem grande poder de fogo. São 253 metros por segundo.
- Como é que conseguiste passar a arma no aeroporto de Linda-a-Velha City?
- Bem lembrado, sim senhor. Esqueci-me que foi confiscada pelo SEF…
- F…-se! Pela amostra, a Killing Quickly, Inc. deve estar com dificuldades em recrutar agentes… Mas se eu bem os conheço, terás outra arma no cofre.
JC apanha o shuttle para o hotel Venetian, situado ali bem perto na ilha de Taipa, na Cotai Strip.
Dá uma volta pelo casino. Consegue um jackpot nas slot machines e, na mesa de blackjack, rebenta com o banca, tirando exactos “21” em cinco rondas sucessivas. É o maior! E as fichas acumuladas tilintam mais que “Money” dos Pink Floyd.
Já instalado numa maravilhosa royal suite, com 70 metros quadrados, uma enorme sala de estar e um não menos apreciável quarto, JC deita-se para um sono reparador na cama king size.
E sonha que a Shakira está deitada a seu lado, acariciando-o e ronronando “Underneath your clothes”.
No dia seguinte, logo ao raiar da manhã, JC abandona o hotel e aluga um Toyota Prius, amigo do ambiente. Toma a ponte Governador Nobre de Carvalho, que desemboca na praça do hotel Lisboa.
Estaciona o automóvel na Avenida da Amizade. E aprecia o esplendor da rua que faz parte do circuito do Grande Prémio de Macau. Desloca-se a pé no sentido da Praça do Senado, com um belo pavimento em calçada portuguesa.
- F…-se, que está um calor do c…! – queixa-se JC do clima local.
Despe o casaco e põe-no ao ombro. A camisa cola-se-lhe à pele transpirada pelo efeito da elevada humidade, que ronda os 80%.
JC vai suspendendo, inopinadamente, a marcha, fingindo admirar as montras das galerias comerciais. Apenas para verificar se está a ser seguido.
Vira uma esquina. Pára de novo. Volta para trás. Um pouco mais à frente, baixa-se simulando apertar os sapatos. Confirma que não tem ninguém no seu encalço.
Anda mais uns metros, atravessa para o outro lado da via pedonal, espreitando para a esquerda e para a direita. Tudo tranquilo.
Entra no edifício Kam Loi. Faz um compasso de espera, acendendo um português suave. Olha em redor. Ninguém o observa de forma suspeita. Sobe ao 12º piso. Penetra no “Margaret’s Café & Nata”.
Os seus olhos percorrem o café. Todos os clientes são ocidentais e, sem excepção, degustam os maravilhosos pastéis de nata ali servidos.
JC senta-se numa mesa do canto, com as costas estrategicamente viradas para a parede do fundo. Dali tem a possibilidade de controlar a entrada e todo o salão.
Encomenda um pastel de nata e um nescafé. Desde que a marca fez publicidade com “I can see clearly now”, de Johnny Nash, que ele deixou de tomar bicas e se tornou dependente da cremosa bebida.
Passados alguns instantes, entram no estabelecimento três orientais. JC tira-lhes as medidas e avalia-os simplesmente como pacíficos cidadãos macaenses, que apreciam pastéis de nata.
E porque não? O pastel de nata é uma estrela internacional e só não joga na nossa Selecção porque é baixinho.
No entanto, porque não pode correr riscos, JC segue-os com o olhar, tentando identificar movimentos suspeitos ou volumes escondidos sob as largas camisas brancas.
Sentam-se os três na mesma mesa. Lançam olhares de esguelha a JC e pedem pastéis de nata. Um deles tira um livro do bolso. A capa indica ser um “Manual de Perseguição Aconselhado a Membros das Tríades”.
Algo desperta em JC os treinados instintos de agente secreto. Mas um novo olhar fá-lo baixar a guarda. O livro tem uma gaja nua na capa.
- Deve ser um livro pornográfico. O título é só para disfarçar – pensa JC.
Quando um segundo oriental mostra um braço tatuado com um coração a sangrar, trespassado por um facalhão, e encimado por “I love Gasosa”, JC redobra a sua atenção.
Leva a mão à cintura, procurando a arma, mas interrompe o gesto, recordando que esta havia sido confiscada pelo SEF, no aeroporto de Linda-a-Velha City.
Só quando os três homens começam a comer os pastéis de nata com pauzinhos é que JC desconfia que não se tratem de clientes habituais e, quiçá, eventualmente, talvez, porventura, membros de uma tríade.
Abandona o “Margaret’s” e dirige-se para o Banco de Macau, na Avenida da Praia Grande. Acelera o passo. Vai mirando a retaguarda por cima do ombro. Mas ninguém está na sua peugada. Abranda o ritmo, fica mais tranquilo e concentra-se no cofre que o espera na instituição bancária.
JC entra no banco. A música suave dos Coldplay, “In my place”, que se ouve em fundo, está adequada ao ambiente sereno. Diversas secretárias, com terminais informáticos, distribuem-se por toda a sala. Dirige-se a uma delas, confere que tem a chave do cofre no bolso e explica ao funcionário o que pretende.
Descem à cave do edifício e entram na sala dos cofres. O funcionário coloca a sua chave na fechadura de um cofre. JC enfia depois a sua. Aberta a caixa, o bancário deixa JC sozinho.
Ele analisa o conteúdo. Vários passaportes, com nomes e nacionalidades diversas… um envelope lacrado… uma pistola, ainda com a etiqueta. Trata-se de uma Walther PPK, calibre 7,65.
- Ena, ena, a arma clássica do James Bond. Pena que só tenha um alcance útil de 30 metros e apenas sete munições… Há-de chegar para as encomendas!
JC abre o envelope e retira uma folha de papel.
- Mas o que é esta merda? 1 kg de batatas, 5 kg de arroz, 7 diospiros, 2 kg de líchias frescas, 1 embalagem de corn-flakes, 4 litros de leite de soja, 4 velas com aroma de canela, 3 latas de cogumelos?
Finalmente, JC percebe que se trata de um código. Puxa pelos seus elevados conhecimentos de criptografia. E decifra este difícil enigma (o gajo é mesmo bom, carago!).
- Comecemos pelo primeiro item da lista. Primeiro, tenho de eliminar a medida e fica 1 de batatas. A seguir devo apagar a preposição e fica 1 batatas, depois corto o substantivo e fica 1.
JC só se engasgou nas líchias frescas. Até perceber que o adjectivo só servia para baralhar eventuais intrusos.
Aplicada esta sofisticada técnica de descodificação aos vários itens da lista, JC chega, duas horas depois, ao código da conta bancária: 15721443.
- Os tipos da Killing Quickly, Inc. gostam de complicar as coisas – queixa-se – o que vale é que eu sou um grande agente secreto!
JC acomoda os passaportes no bolso interior do casaco. Coloca a pistola no coldre que tem à cintura e procede à ordem de transferência do montante na conta do Banco de Macau para uma off-shore nas Ilhas Virgens.
- Missão cumprida! – exclama JC, abrindo as colossais portas do banco.
(Então e as perigosas tríades? Perguntam os caros leitores. Era só fumaça? Nem há uns tiritos? Umas bombas? Umas naifadas? Uma perseguição automóvel pelas ruas de Macau? Nem sequer uma queca na sala dos cofres? Pois! O que vocês querem é sexo! Marados! E tiveram direito a pastéis de nata, porque eu sou um gajo catita. Nunca ouviram falar em publicidade enganosa?).
TO BE CONTINUED…

"Só Gosto de Ti" e "O Corpo é que Paga"



O Manel quer a "Paixão", o J.Afonso o "Amor" e eu, só para chatear, escolho o "Só Gosto de Ti" ("só gosto de ti porquê não sei mas estou bem assim e tu também"). Acho que se enquadra na personalidade do JC, assim como "quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga". O meu já pagou muitas vezes...

A Casa do Cara**o

Provavelmente já conhecem mas é sempre delicioso rever esta reportagem.

É a minha modesta contribuição para a tese de mestrado da Claudinha Docinho, aqui pode encontrá-los de todos os tamanhos. Aproveito para lhe dar as boas vindas a este blogue e manifestar a minha satisfação pela animação que lhe está a dar! É uma querida...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 29
JC VIAJA PARA MACAU

“A sexualidade dos aviões sempre me fascinou”
Martin Scorsese

O primeiro passo para a deslocação de JC a Macau passa pelo contacto da resistência panamense com o seu agente infiltrado naquele território – aquele que a Killing Quickly, Inc. pensa controlar (são mesmo burros os gajos. Pudera, com o presidente sempre a ver passar os navios…).
O JA confirma que está na posse da chave do cofre que tem os códigos de acesso à conta de JC no Banco de Macau.
E avisa o nosso herói para ter muito cuidado com as tríades chinesas. Levaram um abanão quando o líder da “14 Kilates”, Wan Kuok-koi, foi detido em 1999 e apanhou 15 anos de prisão.
Mas, em 2006, as receitas do jogo em Macau cresceram exponencialmente, ultrapassando mesmo as de Las Vegas, tornando aquele território no principal centro mundial da indústria do jogo. Isto provocou um ressurgimento da actividade das tríades. E a coisa complicou-se.
- Olha que os tipos são mesmo mafiosos e como os chineses são todos parecidos, fica difícil identificá-los – alerta o JA.
Depois de acertados os detalhes da viagem de JC a Macau, este embarca no aeroporto de Linda-a-Velha City para ir sacar a massa que vai permitir à sociedade secreta suster a invasão do Panamá.
O voo foi agradável, apesar da longa duração da viagem e de alguns detalhes de menor importância.
JC solicitou autorização para ir ao cockpit apreciar as vistas. A bela e curvilínea comandante do avião aceitou o pedido sem quaisquer restrições. E apresentou-se:
- Olá, eu sou a comandante Marília e espero que esteja a fazer uma boa viagem.
- Olá comandante Marília. Eu sou o JC e tu és assim como um helicóptero: gira e boa! Safas-te ou quê?
- Estes voos são uma seca! Deliro quando há turbulência. Adoro dar umas quecas quando o avião estremece. É só adrenalina!
- Mas que coincidência! Eu adoro turbulências e adrenalina é a minha profissão.
- Gosto de tipos bem paginados e atrevidos, assim como tu. Mas a maior parte deles borra-se quando o avião abana.
- Eu não! Sou um agente secreto e estou treinado para essas eventualidades.
- Uau, agente secreto? Posso presumir então que não sofres de aerofobia e de claustrofobia?
- Aero quê? Claus quê? Não tenho fobias nenhumas, só manias e algumas bem lixadas. E Diz-me lá uma coisa, oh Marília. Não era suposto teres um co-piloto?
- O gajo não aguenta voos calmos. Dão-lhe uma soneira do caneco. Está a dormir no porão.
JC percebe a indirecta…
- Boa ideia! Não queres ir comigo para o porão?
Mas acerta ao lado…
- Não dá, pá. Eu tenho orgasmos bastante sonoros e acordávamos o tipo. Mas se não és claustrofóbico, podemos ir dar uma rapidinha no WC, que, neste modelo de avião, é insonorizado – sugere a comandante.
O nosso herói tem mesmo jeito para o engate e a coisa compõe-se. A comandante atirou-se de cabeça! E JC vai na onda, mesmo sem pára-quedas…
- É apertadito, mas eu gosto de ti e nunca papei nenhuma comandante. Bora lá.
O problema é que JC e Marília entusiasmam-se e de uma rapidinha, passam a duas e depois a três e perdem a noção do tempo.
Entretanto, o avião começa a perder altitude.
Os dois amantes não ouvem os berros desesperados dos passageiros, nem as violentas pancadas dadas pelo chefe de cabina na porta do WC. Sabe-se lá por ser insonorizado ou porque a Marília grita que nem uma búfala com cio.
Quem safa a situação é uma assistente de bordo. Como tem um namorado com “brevet”, está de certa forma familiarizada com o instrumento dos pilotos e estabiliza a aeronave.
Finalmente, a tripulação consegue arrombar a porta do WC e depara com os dois amantes em frenética actividade.
- É sempre a mesma merda com esta gaja. Já levou cinco repreensões escritas e não desiste de f… tipos quando está de serviço – protesta o chefe de cabina.
- Ouve lá, meu, cuidadinho que eu sou agente secreto e vou-te às trombas. Isso são modos de falar com a autoridade máxima no avião, ainda por cima é uma senhora? – protesta JC.
- Estou-me a cagar para vossa excelência e para a autoridade. Essa maluca podia ao menos ter ligado o piloto automático, não podia?
Perante esta informação relevante, JC decide ir ocupar o seu lugar na classe executiva e Marília regressa aos comandos do avião.
Como é evidente, os outros passageiros não gostaram da manobra aeronáutica de JC e protestam ruidosamente à sua passagem.
- Veja lá se para a próxima bate é uma punheta. Você a f… e nós na iminência de sairmos daqui todos f… Palhaço!
- Apoiado! Ou então comia uma assistente de bordo! Prefiro ficar sem a refeição do que ir para o galheiro. Tarado!
Os Heróis do Mar, que seguiam naquele voo, levantam-se e começam a cantar, gozando com JC.
Paixão, paixão não vais fugir de mim
Serás paixão até ao fim
Paixão, paixão não vais fugir de mim
Serás paixão até ao fim
Oh por favor vá lá sorri
Dou-te esta flor um beijo a ti.
- Vai-te f… no cu com um candeeiro – dispara JC, citando Miss Woolf, do “Traficante de Armas”, de Hugh Laurie (esse mesmo, o Dr. House, e recomenda-se a leitura).
Já instalado na sua poltrona, JC analisa o completo dossier preparado pela Mui Ilustres e Honoráveis Capitães do Solstício de Verão sobre as tríades.
As tríades chinesas surgiram no século XVI, no período da dinastia Qing, como organizações políticas e revolucionárias.
Só mais tarde se transformaram em seitas criminosas (Hák Sé Wui, em chinês). As mais conhecidas são a “14 Kilates” (Sap Sei Kei) e a “Gasosa” (Soi Fong).
- Mas que nomes manhosos. O responsável de Marketing devia ser débil mental… - reflecte JC.
Excepcionalmente, JC tem razão. Com efeito, embora o kilate seja a medida da pureza do ouro, este só é puro se tiver 24 kilates. Portanto, 14 kilates é assim para o fraquito e, aqui para nós, só é ouro por acaso. Logo, o “marketeer” que vendeu aquele nome à seita já deve estar a ser comido pelos peixinhos no rio das Pérolas há bué de tempo…
E gasosa? O que dizer de gasosa? Qual foi a última vez que algum dos leitores pediu uma gasosa? Um panaché, ainda vá. O mais popular pinochet também se admite, mas pouco. Mas gasosa? Imaginem um gajo terrível, muito mal apessoado, a exigir a comissão ao dono do casino flutuante: “Oh meu, eu sou da Gasosa, passa para cá o carcanhol ou levas nas ventas!” A reacção seria, no mínimo, hilariante.
- Como é que estes tipos conseguem assustar alguém com estes nomes? Há qualquer coisa que me está a escapar… - rumina JC.
As tríades têm como fontes de receitas a “protecção” de casinos e estabelecimentos comerciais, empréstimos com juros elevadíssimos, sobretudo a jogadores, droga, lavagem de dinheiro e tráfico de prostitutas (agora estive bem!).
Na década de 1990 foram responsáveis por muitos assassinatos, tidos como ajustes de contas entre tríades rivais a operar em Macau.
JC fecha o dossier quando o avião inicia a aproximação à pista do aeroporto de Macau, sobrevoando o delta do rio das Pérolas.
Distingue a península de Macau e as ilhas de Taipa e Coloane, actualmente ligadas por um aterro, o istmo de Cotai.
E aprecia as três pontes que ligam a península às ilhas de Taipa e Coloane: Ponte da Amizade, Ponte Governador Nobre de Carvalho e Ponte Sai Van.
A maior distância, a leste de Macau, JC vislumbra Hong-Kong.
O avião aterra. JC vai ao cockpit dar um último beijo à Marília. Sob o olhar sonolento do co-piloto, que tem o uniforme sujo de um líquido biliar amarelo-esverdeado.
- Este rapaz deve ter problemas de fígado – pensa JC.
TO BE CONTINUED…

terça-feira, 1 de julho de 2008

JANTAR "JACÓ" EM LINDA-A-VELHA 27JUN08 - PARTE 3






Como se pode verificar pela última foto, houve espionagem do mulherio e discreta. Mas nós topámos!

JANTAR "JACÓ" EM LINDA-A-VELHA 27JUN08 - PARTE 2






JANTAR "JACÓ" EM LINDA-A-VELHA 27JUN08 - PARTE 1






Mais uma vez se reuniram os bloguistas no seu jantar mensal.

Desta vez, o restaurante escolhido foi o "Jacó", em Linda-a-Velha, numa organização Tó Ride. Único reparo: NÃO SE PODE FUMAR, PORRA! No resto, tudo em conformidade com as altas exigências da malta.

ENTRADAS: Caril de moelas, Carpaccio de carne fumada, Queijo de ovelha.

PRINCIPAL: Ossos com couve lombarda, Gaitada (porco), Tiras de novilho, Churrasquinho de vitela, Caril de gambas.

VINHO: Boas escolhas - Dona Ermelinda 2006 (Palmela) e Encosta de São Gens 2004 (Alentejo).

Belas sobremesas, com destaque para a mousse de chocolate.

Para digestivo, o Scorpino esteve à altura: gelado de limão com cointreau, vodka e natas.