sábado, 26 de abril de 2008

"CRIME EM LINDA-AVELHA CITY" - CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 7
OPERAÇÃO BADAJOZ

“Já fiz amor com muitas mulheres. Nenhuma se queixou.”
Angelina Jolie

Continuamos na sede da Killing Quickly, Inc. Os seguintes acontecimentos ocorrem entre as 14.30 e as 15:30, de 25 de Abril de 2008.
Algures acima do 229,7º piso. Um salão imenso. 400 m2. Vidraças ainda mais imensas. 500 m2. Voltadas a sul. E a oeste. Uma perturbadora secretária. 20x10 metros. Tampo em vidro. Marinha Grande. Suportada por quatro colunas jónicas. Com capitéis ornamentados. E duas volutas. Candeeiro de secretária. Enzo Ferrari. Um assombroso sofá. Creme. 40 metros. Philippe Starck. Estantes. Do chão ao tecto. Numa parede. A oeste. Enciclopédia Britânica. Em quintuplicado. Para encher as prateleiras. Cascata. Noutra parede. A norte. Queda para lago. Fonte romana. No centro. Chão em mármore. Botticino. Som fixe. Bang&Olufsen. Pé direito. Quatro metros. Tecto. Raina da Jordânia. É boa a gaja! Desnuda. A fumar um Cohiba Lanceros.
Após esta demonstração de como é possível descrever um determinado cenário num único parágrafo com períodos telegráficos e detalhes completamente acessórios e que não acrescentam qualquer mais-valia com excepção da Raina ao enredo do magnífico thriller que o leitor está a ler com satisfação integral e que pergunta mas afinal quando é que entramos nos meandros do crime prometido pelo autor que me parece ser um energúmeno sem qualificação acima de qualquer ponto localizado na cota zero vamos então dar início a um diálogo cheio de intensidade dramática.
(Podem tirar alguma pontuação do 1º parágrafo, elaborado no estilo “vejam como sou um escritor da nova geração”, e transferirem-na para este último, baseado no estilo Saramago “vejam como eu sou o melhor escritor do mundo, muito melhor que o António Lobo Antunes”. Acaba por ser uma actividade mais construtiva e didáctica do que andarem por aí armados em dealers a passar droga).
Como não podia deixar de ser, considerando a, muito sintética, descrição do cenário, estamos no gabinete do chairman, John Verygood.
Sentado à secretária, Verygood foca os olhos no horizonte longínquo, através da vastíssima vidraça. Não fosse a ligeira névoa que começa a surgir, seria capaz de ler os nomes dos super-petroleiros que circulam, a muitas milhas de distância, no Golfo do México.
Vejam só a altura do edifício… os olhos de falcão do gajo… e a qualidade de serviço da empresa que limpa as janelas…
Segurando as 11,86 gramas de um havano Cohiba Siglo V, calibre 43, 170x17,07 milímetros, Verygood parece apreensivo.
Peter Hitdogs, o director de Operações Exteriores, encontra-se do outro lado da secretária. Tão grande, tão grande, que são obrigados a dialogar via telemóvel bluetooth.
Aliás, Hitdogs restringe a comunicação por telemóvel ao interior da sede da Killing Quickly, Inc.
As incontáveis suspeitas de corrupção, acumuladas na sua actividade anterior, como senador do Arkansas, nunca foram provadas.
Mas as acusações pendem sobre a sua cabeça, como uma espada de Dâmocles. E sabe que está sob permanente escuta.
Como costuma dizer aos amigos, sorrindo maliciosamente:
- Sempre que dou um peido, aparece-me um gajo do FBI com um rolo de papel higiénico na mão!
Verygood não tem Hitdogs na sua linha de visão, optando por mantê-la na do horizonte, onde aprecia a azáfama do Superman a evitar a colisão de um meteorito com o planeta Terra, mas inquire:
- Diz-me lá, Paul, como estão a correr os nossos contratos no exterior? Parece que estamos com alguns problemas…
- De certa maneira sim, pá.
- De certa maneira? Desenvolve lá essa merda!
- Temos um caso bicudo para resolver no Panamá… pá.
- F…-se. Não me digas que há mau tempo no Canal?! Outra vez aquele c… do Vitorino Nemésio a meter-se onde não é chamado! Não tínhamos dado cabo do tipo?
- Não pá, tem a ver com o contrato que assinámos com os espanhóis. A “Operação Badajoz”.
- Com os espanhóis? O que é que esses gajos têm a ver com o Panamá?
- John, John, pá, os gajos são vizinhos. Uma consultazinha, esporádica, ao atlas mundial dava-te jeito!
- Bom, está bem, não é preciso. O c… do atlas está lá no fundo da sala, já fiz o meu jogging diário e as tuas informações sempre se confirmaram fiáveis…
- O que acontece, pá, é que os espanhóis têm algumas regiões sem vista para o mar, o que tem gerado algumas situações constrangedoras para o governo central…
- Explica lá isso direitinho, f…-se.
- Também não sou grande especialista em questões geoestratégicas, pá. E sabes que os europeus têm umas manias do c… Parece que duas regiões, até há pouco muito tranquilas, estão a ameaçar criar uma tensão independentista se o governo não as puser sobranceiras ao Atlântico. E já, pá! Dizem que a Galiza está a ser privilegiada.
- E esse tal de Atlântico não é subornável?
- É um oceano, pá! Mas posso pedir ao nosso Departamento Estratégico que faça uma avaliação da situação e das condições em que poderíamos avançar para uma aproximação, pá.
- Mata-se o gajo, c…
- John, my buddy (desculpem, leia-se pá). É água como daqui ao Burundi!
- Cá para mim, prefiro James Martin’s 30 anos – avisa Verygood, enquanto despeja dois dedos do dito num balão de cristal, com 40 centímetros de diâmetro.
- O contrato que fizemos com os caramelos dos espanhóis implicava que, num prazo de cinco anos, púnhamos os caramelos dos espanhóis com vista para o mar… pá.
- Porquê essa insistência nos caramelos dos espanhóis? Não estarás, por sinal, a gozar com a minha dependência de caramelos?
- Por acaso não, pá. Mas devias provar os de Badajoz. São uma delícia, pá. O único contra é que se agarram aos dentes, pá.
- OK. Tenho de os provar um destes dias. Afinal porque é que estamos com problemas?
- É que entre essas regiões espanholas, com os nomes estranhíssimos de Castilla y León e Extremadura, e o tal Atântico há um país aterrador, cheio de tipos danados para a porrada, o Panamá, pá. Aquilo começou com o gajo que foi o primeiro presidente, um tal Afonso Henriques, a espadeirar com a mãe. Foi então que o gajo experimentou LSD e se passou dos carretos, vindo por ali abaixo todo psicadélico à mocada aos índios, pá.
(os americanos sempre foram muito dados à história e à geografia…)
- São durões, esses c…
- Até puseram um na presidência da Comissão Europeia, vê lá tudo a pinta dos meninos, pá.
- Perigosos, quer-me parecer. Assim um meio-termo entre as empadas da minha mulher e o chili tex-mex do autor desta merda…
- Muito pior, pá. Os malandros tiveram a ousadia de invadir a nossa embaixada na capital do Panamá, na sequência de uma revolução que para lá aconteceu há 34 anos.
- Árabes, está-se a ver…
- Não pá, são muito mais loucos!
Toca o telefone e o vivo diálogo é interrompido. Paul Hitdogs aproveita para ir à casa-de-banho.
TO BE CONTINUED…

6 comentários:

RJAM disse...

Ainda agora acabei de ler o capítulo 6 e já está aqui o 7? Vou ler.
Será que a Angelina Jolie já dormiu com muitos LA Velhenses? Penso que não pois algum já se teria queixado...

RJAM disse...

... E muito cuidado com os gajos de LA Velha, Panamá.

RJAM disse...

Repararam (os mais sagazes) como sou um gajo culto?
Demorei exactamente 9 minutos a ler este capitulo.

Fernando Bugalho disse...

E eu a pensar que com a Angelina Jolie se iriam iniciar as cenas de sexo selvagem entre mulheres ninfomaniacas lésbicas tailandesas e afinal..., nada.

Força autor, espero até ao final de domingo ter pelo menos mais 2 capítulos, com algum sexo, violência, corrupção e, porque não, futebol.

MANUEL JESUS disse...

Mas o que é que deu a este pessoal de Linda-a-Velha, que só quer sexo e violência? Marados do caraças!
Oh Montez. Tu és culto e eu sou sagaz. Ficamos assim.
Quem já dormiu com a Angelina que se acuse... Eu dormi com a prima da vizinha de uma gaja que já dormiu com a Angelina. Mas isso não conta, pois não?
Bugalho: até ao final do fim de semana vais ter mais 2 capítulos. Se apanhares uma overdose, depois não te queixes.

Anónimo disse...

acho que já estou a apanhar....mais uma vez vai o elogio a habilidade com que descreves os detalhes inúteis...
jinhos