quinta-feira, 17 de abril de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 3

Nota prévia: Umas pitadas de sexo e alguns tiros só poderão ser apreciados depois do Capítulo 10, quando as criancinhas já estiverem a dormir. No presente capítulo, continuamos a enquadrar a vida de JC. Nem imaginam aquilo que ele um dia ainda vai fazer pela sobrevivência do Panamá e até do planeta...


CAPÍTULO 3
O SONHO COMANDA A VIDA…
ONDE É QUE ESTÁ O COMANDO, PARA JC FAZER ZAPPING?

“Não me vejo a aumentar o peito. Eventualmente, reduzi-lo…
Gostava de arrumar isto de outra maneira”
Júlia Pinheiro

Após o “flashback” à infância de JC, usado para explicar a desconformidade de alguns dos seus comportamentos futuros, voltemos agora ao tempo real.
JC guardou a carteira conquistada a Manny no bolso das 501. Resistindo, assim, ao frenético desejo de verificar o seu conteúdo, adiando o momento da verdade, pura e dura, em que passaria à contagem das notas.
- Pela pinta do gajo, autor consagrado e coisa e tal, a carteira deve estar recheada de notas de 500 euros – murmura JC, enquanto se encaminha para o T0 duplex, quarto em baixo e cozinha em cima.
(Opção arquitectónica discutível no mundo real, embora aceitável no mundo da ficção, não acham?).
JC nunca foi tipo de sonhar alto. Talvez porque tem o quarto no rés-do-chão e o pé direito da assoalhada é diminuto.
Leu recentemente que “nada é real, a não ser o sonho e o amor”. Contudo, homem de convicções fortes e opções rectilíneas, JC sempre privilegiou o amor em detrimento do sonho.
- Afinal, o amor já dá uma trabalheira do cacete, porquê gastar energia a sonhar?! – Defende, nos momentos dedicados à imersão filosófica, que costuma praticar nas conversas de café.
A dois quarteirões de distância do T0 duplex, um magnífico stand de automóveis e demais veículos motorizados merece a atenção dos transeuntes.
Os bólides em exposição, brilhantemente polidos, sempre foram motivo de admiração de JC.
Costuma ficar parado, durante incessantes horas, fixado nas belas máquinas e imaginando o dia em que terá capacidade financeira para adquirir o objecto dos seus sonhos (afinal, o gajo sonha, incongruências do autor…): uma Kawasaki Cruiser VN900 Classic.
Na verdade, o que JC desejava mesmo era ser proprietário de um stand destes, tão bem posicionado geograficamente e, certamente, gerador de lucros avultados.
Sempre ambicionou poder vestir um fato completo, dar o nó à gravata azul-bebé, e sair para o mundo num engenho topo de gama, como vê habitualmente fazer os Vasconcelos Brothers e os seus clientes, pormenores reveladores do sucesso do stand automóvel, mesmo ali, à beira da sua residência.
Desanimado com a vida, que ainda não lhe trouxe qualquer desafogo económico, JC abandona a custo a visão mirífica dos bólides e encaminha-se para o café.
- Já viram os gajos do stand aqui do lado? Assim também eu tinha paletes de gajas à minha volta! – Pronuncia JC, à frente de um croquete e uma imperial.
- Pois é, pá, mas como dizia o Balzac, “por detrás de cada grande fortuna há um crime” e tu, assim pobrezinho, nunca terás a bófia a bater-te à porta! – Responde o Gervásio, 27 anos, sem ocupação conhecida.
Não tardou que o Artur, 48 anos, reformado por invalidez, se juntasse à discussão:
- Já Schopenhauer avisava que “a riqueza influencia como a água: quanto mais bebemos, mais sede temos”.
Faz-se interminável silêncio no café, com toda a clientela a reflectir sobre as sábias palavras do Artur. Interlúdio interrompido, três longos segundos depois, pelo proprietário da baiuca, o Zeca, 63 anos:
- O que vocês têm é inveja. Aquele rapaz que foi ministro, o Portas, é que vos tira a medida. Ainda me lembro dele ter dito que “um boato é um boato. E os panamenses são os panamenses. E os panamenses praticam a maledicência e a inveja como ninguém.”
- Bandido! – gritam em uníssono os membros do painel de discussão, ficando por descodificar se o termo era dirigido ao ex-ministro ou ao Zeca.
Extenuado por tão exigente discussão, JC despede-se com um quase inaudível:
- Hasta la vista baby (esta foi metida a martelo, mas ainda será usada qualquer dia num filme de acção que será sucesso de bilheteira..).
JC já tinha olvidado a carteira de Manny, devidamente resguardada no bolso das suas 501, mas aquela volta-lhe subitamente à memória.
Tão subitamente como a escorregadela num cagalhão canino depositado no passeio, levando o seu corpo a iniciar um impressionante voo, 50 centímetros acima do nível médio da água do mar, penetrando, em voo livre, no stand.
Ainda espojado no sempre bem envernizado piso que acolhe os bólides, JC vê a luz.
- Isto foi obra de Nosso Senhor Jesus Cristo! Isto foi o derradeiro sinal! Os santinhos sabem que a carteira do Manny está cheia de guito.
Levanta-se, dirige-se à recepção do stand e, logo ali, passa um cheque para pagar a primeira prestação da Kawasaki.
(Passámos por cima da negociação de compra e venda, que daria um belo momento literário, sobretudo porque os Vasconcelos Brothers não facilitaram, e fomos directos ao assunto, na medida em que o capítulo já vai longo e, como sabemos, JC não é grande peça como negociador).
Já montado na máquina Kawasaki, JC dá uma gargalhada e sai a toda a brida para a via pública.
- A massa do Manny deve dar, no mínimo, para pagar 10 prestações, talvez 15 – monologa JC.
É este facto que, na realidade, vai transformar JC num novo homem e abrir as portas para o desenrolar da acção nos próximos 17.969 capítulos de “Crime em Linda-a-Velha City”. Os dois primeiros capítulos tiveram o singular e exclusivo objectivo de testar a perseverança dos leitores.
E foi também o resultado de ontem do Sporting-Benfica que transformou a equipa da Luz numa nova equipa, tornando o clube da Luz num sério caso de polícia.
TO BE CONTINUED…

3 comentários:

Anónimo disse...

como eu imaginava...vc sempre consegue me surpreender...apesar de eu continuar aflita por tiros, drogas, sexo e rock estou a adorar ...
Sugestão:...com essa gita toda o JC podia era comprar umas tralhas de informática de contrabando ....
jinhos

RJAM disse...

Gostei dos Vasconcelos Brothers... mas está a fazer falta muito sexo e algum rock. Fico a aguardar, na expectativa do autor aceitar a minha consultoria (que, ainda por cima, é de borla - só a 1ª vez, claro).

MANUEL JESUS disse...

Oh Montez: como avisei, sexo, tiros, e bastante rock só depois do 10º capítulo. Primeiro é preciso enquadrar as personagens. Não vou começar a f... e a aniquilar as ditas sem primeiro as apresentar. Seria falta de educação. Mas a dica fica registada e será tida em consideração.