terça-feira, 15 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 34
“SHAKED, NOT STIRRED”

Fatima: Oh, sou tão desastrada. Molhei-te todo.
Bond: Sim, mas o meu Martini continua seco.
Never Say Never Again

Steve Shithead, o armário, recebeu, finalmente, instruções da sede da Killing Quickly, Inc. Deveria aguardar o desembarque de JC no aeroporto de Linda-a-Velha City, segui-lo e aproveitar a melhor oportunidade para o liquidar.
Marcado pelo seu anterior fracasso, o assassino está disposto a não cometer mais erros. Duas cabeças, quatro olhos e outros tantos braços, já para não falar em pernas e tomates, garantem maior eficácia.
Faz-se, assim, acompanhar por um meliante contratado localmente para o ajudar. Trata-se de Zé das Osgas, um verdadeiro pulha, com vários mandados de captura, que mata por contrato e tem fama de infalível no Panamá e arredores.
Porém, aquele que poderia constituir um excelente ensejo para assassinar JC, à saída do próprio aeroporto, e permitir arrumar logo a questão, é posto de lado.
É que JC abandona o aeroporto e apanha um táxi acompanhado pela comandante Marília. O armário considerou a situação demasiado arriscada e prefere tratar do assunto sem testemunhas.
Por isso, segue JC até ao seu destino, o já conhecido Flamingo Bay, na Ocean Drive.
O nosso herói e a Marília saem do táxi e dirigem-se ao bar do hotel, para tomarem uns martinis à maneira de James Bond, isto é, com vodka e “shaked, not stirred”.
Claro que ao barman, bastas vezes premiado em concursos internacionais de cocktails, não agradou a escolha.
- Sabe que isso é um erro tremendo? Que o correcto é preparar o martini com gin e stirred, not shaked?
- Você já escreveu algum livro de espiões? – pergunta-lhe JC.
- Nem por isso – respondeu o barman.
- Por acaso, é um Sir?
- Também não.
- Joga golfe?
- Isso muito menos!
- Então prepare-me lá o martini como eu pedi e deixe-se de modernices – exige JC.
Steve Shithead aproveita a circunstância para identificar o quarto em que se aloja JC e é lá que decide aguardar pela chegada do agente, para o matar, cumprindo a missão.
O seu ajudante fica a controlar o lobby do hotel, não se dê o caso de JC resolver ir passar a noite no leito de Marília.
Tomados os martinis, JC despacha a comandante, com a promessa de futuros voos. Explica-lhe que a vida de agente secreto é muito problemática, nunca se sabe quando é um gajo leva um tiro nos cornos, muitas viagens, longas ausências.
Mas ela não aceita a situação com fair-play, porque se apaixonou pelo agente e imaginava já o início de uma longa relação, estável e capaz de lhe proporcionar uma grande prole. Tinha até equacionado o abandono da profissão, para cuidar dos futuros rebentos. E o nome do primeiro estava já escolhido: Jumbinho.
- Não sei se será da natureza humana estar casado com alguém durante toda uma vida – diz-lhe JC, secundando a opinião de Brad Pitt, que lera recentemente numa revista cor-de-rosa.
- E eu li em tempos que a sorte do egoísta é viver sem preocupações e o seu castigo é morrer sem afectos – responde Marília.
- O teu problema é o jet-lag, oh Marília. Vai descansar, que isso passa.
- Bruto, ingrato, monstro, malcriado, animal, insensível, grosseirão, besta, cavalgadura, cruel, ordinário, maricas, cobarde, vomidrine… - Vai gritando Marília, saindo, transtornada, do bar.
JC suspira de alívio. Pode agora rumar ao seu quarto, para o combinado encontro ardente com a voluptuosa Samantha.
O agente entra no quarto e vislumbra o vulto nu de Samantha, adormecida na cama. Sorri, antecipando já uma fantástica noite de sexo. Aproxima-se, dá-lhe um beijo delicado nos lábios.
Sente um líquido viscoso com sabor ferroso que, imediatamente, identifica. Estremece. Analisa o rosto de Samantha com maior acuidade e repara no fino fio de sangue que se liberta dos lábios da mulher.
JC aprendeu a reconhecer a morte. Não lhe suscita qualquer dúvida a condição de cadáver da sua amada. Depois, distingue um pequeno oríficio na testa da mulher.
Todos os sentidos do agente ficam imediatamente em estado de alerta. Ele pressente o cheiro da morte. Ou talvez o fedor a suor, libertado do corpo de Shithead, que não toma banho há uma semana.
Seja pelo odor da morte ou da transpiração do assassino, os treinados instintos de JC levam-no, num movimento reflexivo, a voar por cima da cama e a aterrar no chão alcatifado.
O corpo de Samantha recebe um novo impacto e JC reconhece o silvo seco de um disparo com silenciador, que ele bem conhece.
Apercebe-se agora da aproximação do atacante, mas pouco pode fazer, visto que está desarmado. A sua mão direita, que havia deslizado para debaixo da cama, toca num objecto afiado. JC tenta agarrá-lo desesperadamente. Sem sucesso, na medida em que o seu agressor está já em cima dele, imobilizando-o e apontando a pistola à sua cabeça.
JC faz um derradeiro esforço para alcançar o objecto sob a cama. A batalha entre a vida e a morte encontra aqui o seu zénite. A pistola está a uns escassos 10 centímetros da cabeça do nosso herói.
JC debate-se furiosamente, mas prepara-se para a morte. Vê-a claramente nos olhos triunfantes do seu atacante, que lhe diz com voz de falsete:
- Já eras, meu! Come lá esta ameixa, que está madurinha…
Eis senão quando, num rápido movimento, JC crava o picador de gelo no olho esquerdo do armário, fazendo-o penetrar profundamente no crânio do assassino.
JC ergue-se, o corpo estremecendo devido ao esforço realizado, da tensão provocada pela descarga de adrenalina.
Recolhe a arma do falecido Steve Shithead, lança um olhar angustiado ao corpo sem vida de Samantha. Sente o desejo de a abraçar pela última vez, mas sabe que o tempo é um factor importante nestas situações, pelo que escapa a toda a velocidade. A despedida final da sua amada ficará para nova oportunidade.
À chegada ao lobby, JC identifica outro atacante e corre para o exterior do hotel, através de uma porta giratória, cujo movimento faz acelerar após a sua passagem.
Zé das Osgas tenta atravessar a porta, mas é envolvido no movimento rotativo desta e fica aprisionado, aos trambolhões, no seu interior. O meliante recupera rapidamente e a perseguição avança na rua.
JC ziguezagueia, escapando às balas que silvam em seu redor. A preparação física confere-lhe alguma vantagem, também reforçada porque Zé das Osgas está inferiorizado pela falta da dose diária de heroína. Facto que lhe embarga a mente.
Quando JC consegue alcançar alguma distância, pára, aponta a arma e aperta o gatilho. Nada acontece. A pistola está encravada.
A perseguição feroz arrasta-se pelas ruas escuras de Linda-a-Velha City.
JC procura um local para se enconder, tenta abrir as portas de vários edifícios, mas nenhuma lhe franqueia a entrada. Continua a fugir. O instinto de sobrevivência é mais forte do que o cansaço.
Distingue ao longe o néon familiar do Mil e Uma Noites. É nessa direcção que corre desenfreado. Abalroa o porteiro e entra no bar.
Zé das Osgas chega logo a seguir e, face à tentativa do porteiro de lhe barrar a entrada, dispara directo ao coração.
JC está agora no centro da sala. Não tem qualquer hipótese de fuga. Volta-se na direcção da porta. Zé das Osgas fita-o da entrada, tem a linha de tiro perfeitamente aberta e aponta a arma, com um sorriso vitorioso a iluminar-lhe o rosto.
Terá chegado a hora de JC? Irá o reptilíneo Zé das Osgas conseguir eliminar o nosso herói? É o que se saberá no próximo capítulo.
TO BE CONTINUED…

3 comentários:

Anónimo disse...

OH Manuel ...não percebi pq que é que ele rejeitou a piloto...mas tú deves lá saber e ter ai alguma guardada na manga...
jinhos

Anónimo disse...

Fosga-se! Não ias de férias?

MANUEL JESUS disse...

BIMBA: É que não dava mesmo jeito nenhum para o desenrolar da história...
ANÓNIMO: Não. O meu heterónimo Manny Gonzalez é que ia, mas eu lixei-o. Ou vamos os dois, ou não vai nenhum. E como o gajo trabalha a recibos verdes...