sexta-feira, 4 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 30

Vamos a isto que o Manny Gonzalez qualquer dia está de férias e o JC também precisa de descanso. Em princípio, a novela acaba em Julho (deste ano)... e não me meto noutra tão cedo!

CAPÍTULO 30
MUITO SEXO, MUITOS TIROS, MUITA ACÇÃO… E PASTÉIS DE NATA.

“A vida quer ser; a vida nem sempre quer ser grande coisa;
a vida extingue-se de vez em quando. A vida continua.
E muitas vezes continua de maneiras decididamente espantosas.”
Bill Bryson

JC encontra-se já no terminal de bagagens do aeroporto de Macau. Como viajou em executiva, a sua mala é a terceira a rolar no tapete. À primeira vista, ele não a reconhece, visto estar manchada com uma substância amarelo-esverdeada.
- O c… do co-piloto vomitou na minha Louis Vuitton – resmunga JC.
Depois de limpar a mala com as cuecas da Marília, que havia guardado no bolso para memória futura, encaminha-se para a saída, procurando o shuttle do hotel Venetian, sendo surpreendido por um gajo careca, de fatinho e gravata e com ar de director do aeroporto.
- “Um não sei quê, que nasce não sei onde…” – diz o sujeito compostinho.
- Vem não sei como e dói não sei porquê…” – responde JC.
(Não parece, mas isto é Camões no seu melhor. Os honoráveis capitães são tão cultos que até mete impressão).
- Estás fixe, JC?
- Nem por isso oh meu honorável capitão! Estragaram-me a Louis Vuitton…
- Deixa lá, que isso resolve-se. Compras outra. O que não falta aqui são cópias verdadeiras a preços fantásticos.
- De resto, o voo correu bem.
- Acabei de receber um “report” de incidente no teu voo. Esteve em risco de queda. Por acaso, não tiveste nada a ver com isso?
- Quem? Eu? Tás parvo ou quê?
- Toma lá a chave do cofre e põe-te a pau com as tríades.
- Não te preocupes, que trouxe a minha Colt M1911 e cinco caixas de balas calibre 45.
- Ainda usas essa merda? És um bocado arcaico, oh meu. O exército americano já a substituiu na década de 1980.
- Para um gajo habilidoso como eu, até com uma zarabatana os avio. E a munição 45 tem grande poder de fogo. São 253 metros por segundo.
- Como é que conseguiste passar a arma no aeroporto de Linda-a-Velha City?
- Bem lembrado, sim senhor. Esqueci-me que foi confiscada pelo SEF…
- F…-se! Pela amostra, a Killing Quickly, Inc. deve estar com dificuldades em recrutar agentes… Mas se eu bem os conheço, terás outra arma no cofre.
JC apanha o shuttle para o hotel Venetian, situado ali bem perto na ilha de Taipa, na Cotai Strip.
Dá uma volta pelo casino. Consegue um jackpot nas slot machines e, na mesa de blackjack, rebenta com o banca, tirando exactos “21” em cinco rondas sucessivas. É o maior! E as fichas acumuladas tilintam mais que “Money” dos Pink Floyd.
Já instalado numa maravilhosa royal suite, com 70 metros quadrados, uma enorme sala de estar e um não menos apreciável quarto, JC deita-se para um sono reparador na cama king size.
E sonha que a Shakira está deitada a seu lado, acariciando-o e ronronando “Underneath your clothes”.
No dia seguinte, logo ao raiar da manhã, JC abandona o hotel e aluga um Toyota Prius, amigo do ambiente. Toma a ponte Governador Nobre de Carvalho, que desemboca na praça do hotel Lisboa.
Estaciona o automóvel na Avenida da Amizade. E aprecia o esplendor da rua que faz parte do circuito do Grande Prémio de Macau. Desloca-se a pé no sentido da Praça do Senado, com um belo pavimento em calçada portuguesa.
- F…-se, que está um calor do c…! – queixa-se JC do clima local.
Despe o casaco e põe-no ao ombro. A camisa cola-se-lhe à pele transpirada pelo efeito da elevada humidade, que ronda os 80%.
JC vai suspendendo, inopinadamente, a marcha, fingindo admirar as montras das galerias comerciais. Apenas para verificar se está a ser seguido.
Vira uma esquina. Pára de novo. Volta para trás. Um pouco mais à frente, baixa-se simulando apertar os sapatos. Confirma que não tem ninguém no seu encalço.
Anda mais uns metros, atravessa para o outro lado da via pedonal, espreitando para a esquerda e para a direita. Tudo tranquilo.
Entra no edifício Kam Loi. Faz um compasso de espera, acendendo um português suave. Olha em redor. Ninguém o observa de forma suspeita. Sobe ao 12º piso. Penetra no “Margaret’s Café & Nata”.
Os seus olhos percorrem o café. Todos os clientes são ocidentais e, sem excepção, degustam os maravilhosos pastéis de nata ali servidos.
JC senta-se numa mesa do canto, com as costas estrategicamente viradas para a parede do fundo. Dali tem a possibilidade de controlar a entrada e todo o salão.
Encomenda um pastel de nata e um nescafé. Desde que a marca fez publicidade com “I can see clearly now”, de Johnny Nash, que ele deixou de tomar bicas e se tornou dependente da cremosa bebida.
Passados alguns instantes, entram no estabelecimento três orientais. JC tira-lhes as medidas e avalia-os simplesmente como pacíficos cidadãos macaenses, que apreciam pastéis de nata.
E porque não? O pastel de nata é uma estrela internacional e só não joga na nossa Selecção porque é baixinho.
No entanto, porque não pode correr riscos, JC segue-os com o olhar, tentando identificar movimentos suspeitos ou volumes escondidos sob as largas camisas brancas.
Sentam-se os três na mesma mesa. Lançam olhares de esguelha a JC e pedem pastéis de nata. Um deles tira um livro do bolso. A capa indica ser um “Manual de Perseguição Aconselhado a Membros das Tríades”.
Algo desperta em JC os treinados instintos de agente secreto. Mas um novo olhar fá-lo baixar a guarda. O livro tem uma gaja nua na capa.
- Deve ser um livro pornográfico. O título é só para disfarçar – pensa JC.
Quando um segundo oriental mostra um braço tatuado com um coração a sangrar, trespassado por um facalhão, e encimado por “I love Gasosa”, JC redobra a sua atenção.
Leva a mão à cintura, procurando a arma, mas interrompe o gesto, recordando que esta havia sido confiscada pelo SEF, no aeroporto de Linda-a-Velha City.
Só quando os três homens começam a comer os pastéis de nata com pauzinhos é que JC desconfia que não se tratem de clientes habituais e, quiçá, eventualmente, talvez, porventura, membros de uma tríade.
Abandona o “Margaret’s” e dirige-se para o Banco de Macau, na Avenida da Praia Grande. Acelera o passo. Vai mirando a retaguarda por cima do ombro. Mas ninguém está na sua peugada. Abranda o ritmo, fica mais tranquilo e concentra-se no cofre que o espera na instituição bancária.
JC entra no banco. A música suave dos Coldplay, “In my place”, que se ouve em fundo, está adequada ao ambiente sereno. Diversas secretárias, com terminais informáticos, distribuem-se por toda a sala. Dirige-se a uma delas, confere que tem a chave do cofre no bolso e explica ao funcionário o que pretende.
Descem à cave do edifício e entram na sala dos cofres. O funcionário coloca a sua chave na fechadura de um cofre. JC enfia depois a sua. Aberta a caixa, o bancário deixa JC sozinho.
Ele analisa o conteúdo. Vários passaportes, com nomes e nacionalidades diversas… um envelope lacrado… uma pistola, ainda com a etiqueta. Trata-se de uma Walther PPK, calibre 7,65.
- Ena, ena, a arma clássica do James Bond. Pena que só tenha um alcance útil de 30 metros e apenas sete munições… Há-de chegar para as encomendas!
JC abre o envelope e retira uma folha de papel.
- Mas o que é esta merda? 1 kg de batatas, 5 kg de arroz, 7 diospiros, 2 kg de líchias frescas, 1 embalagem de corn-flakes, 4 litros de leite de soja, 4 velas com aroma de canela, 3 latas de cogumelos?
Finalmente, JC percebe que se trata de um código. Puxa pelos seus elevados conhecimentos de criptografia. E decifra este difícil enigma (o gajo é mesmo bom, carago!).
- Comecemos pelo primeiro item da lista. Primeiro, tenho de eliminar a medida e fica 1 de batatas. A seguir devo apagar a preposição e fica 1 batatas, depois corto o substantivo e fica 1.
JC só se engasgou nas líchias frescas. Até perceber que o adjectivo só servia para baralhar eventuais intrusos.
Aplicada esta sofisticada técnica de descodificação aos vários itens da lista, JC chega, duas horas depois, ao código da conta bancária: 15721443.
- Os tipos da Killing Quickly, Inc. gostam de complicar as coisas – queixa-se – o que vale é que eu sou um grande agente secreto!
JC acomoda os passaportes no bolso interior do casaco. Coloca a pistola no coldre que tem à cintura e procede à ordem de transferência do montante na conta do Banco de Macau para uma off-shore nas Ilhas Virgens.
- Missão cumprida! – exclama JC, abrindo as colossais portas do banco.
(Então e as perigosas tríades? Perguntam os caros leitores. Era só fumaça? Nem há uns tiritos? Umas bombas? Umas naifadas? Uma perseguição automóvel pelas ruas de Macau? Nem sequer uma queca na sala dos cofres? Pois! O que vocês querem é sexo! Marados! E tiveram direito a pastéis de nata, porque eu sou um gajo catita. Nunca ouviram falar em publicidade enganosa?).
TO BE CONTINUED…

5 comentários:

Anónimo disse...

oh malandreco!!!!e eu que nem quis ler isso ao pé das crianças...
achei muito boa a trilha sonora...
mas conta lá...na proxima vai rolar uma cena assim mais picante não é????

Fernando Bugalho disse...

O autor diz:
"Em princípio, a novela acaba em Julho (deste ano)... e não me meto noutra tão cedo!"

O leitor responde: Fónix, nem penses nisso; faz lá as tuas fériazinhas descansadinho, mas quando voltares, toca a escrever, que o meu dia a dia já não seria o mesmo sem esta novela.

O autor diz:
"CAPÍTULO 30
MUITO SEXO, MUITOS TIROS, MUITA ACÇÃO… E PASTÉIS DE NATA."

Quando li o título, veio logo à cabeça cenas de sexo com pastéis de nata à mistura, mas afinal, só mesmo os doces. Sexo nem vê-lo e tiros só mesmo de pólvora seca.
Ou será que estavas só a brincar e o sexo e os tiros virão nos capitulos depois das férias ?

Tens a geografia local bem estudada, meu safado.
Boas férias !

Anónimo disse...

Manuel de Jesus.
Tu livra-te de deixares de escrever episódios da novela! Vai lá de férias e volta de cabecinha descansada, para nos continuares a deliciar com as peripécias do JC.
Eu também vou agora duas semaninhas de férias (alegrem-se anónimos e anónimas deste vosso blog) mas quando voltar quero levar outra vez um mês e meio para ler todos os episódios que escreveste, mas os 500.000 comentários de cada um (que é para onde isto está a tender).
Abraços e comprimentos ao honorável capitão careca e de bigodinho (ou seja, com ar de Terceirense)

Anónimo disse...

Manel, não desistas da novela!!
Nós os anónimos gostamos da tua novela.

Boas férias

MANUEL JESUS disse...

BIMBA: Lamento desiludir-te, mas o próximo capítulo é muito soft...
BUGALHO, J.AFONSO E ANÓNIMO: É claro que vou levar a novela até ao fim... está é a chegar à recta final. Só falta uma dúzia de capítulos.