segunda-feira, 7 de julho de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 31
JC SABE NADAR

“No dia em que li que o álcool fazia mal à saúde, deixei de ler”
Jim Morrison

JC trespassa a imponente porta do Banco de Macau. O sol radioso obriga-o a colocar os óculos escuros Ray-ban. Começa a descer a longa escadaria.
Estaca no segundo degrau. Olha para a esquerda. Um dos orientais que encontrara no “Margaret’s” vem na sua direcção. Olha para a direita. Um segundo está parado a quatro metros e fita-o ameaçadoramente.
O que se aproxima pela esquerda põe a mão debaixo da camisa e saca um revólver. Antes de conseguir apontar a arma a JC, este puxa da Walther PPK e dispara. O tiro é certeiro. Bem no centro da testa.
O atacante da direita, agora com um punhal na mão, acerca-se de JC. Este recorre aos seus conhecimentos de Aikido, uma arte marcial que ele domina profundamente e que se baseia no aproveitamento do o movimento do oponente para o dominar.
Agarra-lhe o pulso armado, executa um perfeito tenkan, rodando o corpo sobre o pé pivot, e aproveita o ímpeto do adversário para o projectar para o solo. Imobiliza-o e, com a mão livre, em cutelo, aplica-lhe um atemi na fronte. O inimigo perde os sentidos.
JC põe-se de novo em pé. Uma bala quase o atinge. Ele olha para a parede que está atrás de si e localiza o local do impacto.
Quando um segundo projéctil é disparado, já JC executa uma sucessão de ukemis, rolamentos do corpo, até à beira da estrada, esquivando-se das balas que continuam a tentar abatê-lo.
Durante os rolamentos, JC observa a provável localização do atirador. Percebe que este se encontra no topo do edifício oposto. Estando este longe demais para o alcance da sua pistola, só resta a JC bater em retirada.
Atravessa a rua, correndo velozmente por entre os automóveis. Súbitas travagens chamam a atenção. O ruído de várias colisões sobrepõe-se ao estampido dos tiros.
A cabeça de um condutor de riquexó explode com o impacto de um projéctil, no momento em JC o contorna. Bem a propósito, um holograma do Freddie Mercury cai do céu a cantar “Who wants to live forever” e tenta suster a retirada de JC.
- F…-se! As tríades estão cheias de recursos – cicia o agente secreto.
JC entra na alameda perpendicular à avenida da Praia Grande e mistura-se com a multidão de locais e turistas que enchem o local. Vários transeuntes caem no chão, trespassados pelas balas.
Gritos lancinantes misturam-se com o som cortante de vidros estilhaçados, o estrépito dos tiros e o bruá da mole humana aterrorizada em fuga.
A multidão está em pânico. As pessoas correm de forma atabalhoada, atropelando-se, escorregando no sangue que sai às golfadas dos corpos. Aqui e ali, corpos esmagados pela turba ululante jazem imóveis na calçada.
A “Miss Sarajevo”, celebrizada pelos U2, arrasta-se pelo chão. Estende uma mão despedaçada e tenta alcançar o tornozelo de JC. Lança-lhe um apelo surdo, com o olhar, sentindo aproximar-se o beijo da morte, anunciado pelos frenéticos espasmos que lhe percorrem o corpo.
O agente ajoelha-se, ampara-lhe a cabeça, acaricia-lhe o rosto. Depois dá-lhe o tiro de misericórdia. No último espasmo, já JC reiniciou a fuga.
Quando consegue alcançar uma distância de segurança, ainda ouve os gritos de pavor que ecoam por toda aquela área. Mas ele não interrompe a marcha até chegar ao seu Toyota.
Um cidadão normal estaria neste momento apreensivo. A sua manobra de esquiva por entre a multidão tinha provocado, certamente, dezenas de mortos e feridos. Muitas famílias iriam ficar despedaçadas pelos acontecimentos.
Mas JC não é um cidadão comum. O seu treino de agente secreto mantém-no sereno perante a situação. Liga a ignição e acelera o automóvel.
Em simultâneo, inspira e expira de forma ritmada, contrariando a reacção do organismo, a hiperventilar. Rapidamente normaliza o fluxo de ar nos pulmões.
Olha pelo retrovisor. Um Mercedes já acelera em sua perseguição. A maior potência do veículo germânico leva vantagem sobre a viatura nipónica amiga do ambiente. A distância é cada vez mais curta. JC intensifica a aceleração até aos limites do veículo.
O carro perseguido começa a ser atingido pelos disparos, o vidro traseiro e o pára-brisas estilhaçam-se. JC continua, prego a fundo, a fugir a uma morte quase certa, mas o Mercedes continua a aproximar-se perigosamente.
Só a incrível habilidade de JC – aprendida em exigentes cursos de condução defensiva e agressiva na Killing Quickly, Inc. – lhe permite manter alguma, embora ligeira, distância dos perseguidores.
Graças a ágeis manobras, travagens de último recurso, acelerações bruscas, triangulações e derrapagens controladas, o Toyota vai forçando a passagem, por vezes em contra-mão, escapando nos limites a colisões frontais. As buzinas estridentes cortam o ar.
O automóvel perseguidor está quase colado à traseira do Toyota. O trânsito está interrompido um pouco mais à frente. JC vê-se obrigado a circular pelo passeio. A maior parte dos pedestres consegue desviar-se da máquina mortífera. Um ou outro é esmagado contra a parede.
Uma antiga bond-girl, que andava às compras, não é suficientemente veloz. O impacto do Toyota projecta-a para o habitáculo do automóvel. Mantendo apenas uma mão no volante, JC empurra com a outra o corpo da mulher, já sem vida, para o banco traseiro e prossegue a fuga.
Teri Hatcher, que já havia fenecido às mãos do vilão em “Tomorrow never dies”, volta a sucumbir às manhas do destino e encontra aqui, no Oriente, o caminho para o eterno além. E prova ser bem verdade que “You only live twice”.
O terminal dos ferries de Macau, rodeado de água, já está à vista de JC. Um tiro certeiro destrói um pneu traseiro do Toyota. A viatura derrapa descontroladamente. Está quase em cima do pontão. Dá-se o inevitável capotamento. Mas o efeito de inércia mantém constante a marcha do veículo.
A fricção do metal com o pavimento de betão provoca enormes chispas cintilantes, que inflamam o combustível derramado e transformam o Toyota numa bola de fogo. JC apercebe-se do perigo, mas nada pode fazer para contrariar a explosão iminente.
Porém, a sorte protege os audazes e, quando tudo parece perdido, o automóvel embate num cabeço de amarração, vacila periclitantemente na borda do cais e afunda-se nas águas.
Submerso, JC liberta-se do cinto de segurança e abandona o veículo. Nada para debaixo do pontão. Já nos limites da resistência, consegue emergir. Ofegante, ouve as vozes dos seus perseguidores e o matraquear das pistolas-metralhadoras que varrem as águas.
Após dois minutos, com a respiração de novo controlada, JC nada para a extremidade do pontão e alcança o ferry, que começa a afastar-se na direcção de Hong-Kong. Iça-se para dentro do barco e deixa-se cair, extenuado, no convés.
Os passageiros que se encontram mais próximos olham para o corpo de JC e começam a gritar. A visão assim o justifica. O nosso herói tem as roupas rasgadas, queimadas e manchadas de sangue. Alertados pelos gritos, os seus perseguidores ainda tentam saltar para o ferry, mas afundam-se nas águas. Alguns projécteis acertam na embarcação, mas não causam prejuízos que a impeçam de prosseguir a navegação.
Apesar de combalido, JC mantém a mente desperta. Antecipa que o ferry será agora perseguido pelas tríades, que utilizam tradicionais juncos, optimizados com potentes motores fora de borda, que os transformam em lanchas rápidas. E que, nestas circunstâncias, nunca conseguirá chegar a Hong-Kong.
Atira-se de novo à água e esgota as suas últimas energias nadando de regresso a Macau.
Chegado a terra firme, JC distingue, à distância, os juncos que já se preparam para abordar o ferry.
TO BE CONTINUED…

5 comentários:

Anónimo disse...

Amigo...essa foi o máximo!!!!!! Não sei se foi o vinho que bebi ao jantar...mas tudo passa-se como se fosse um filme...luz, câmara e acção!!!! Começa uma série de acontecimentos com um ritmo alucinante...Fiquei sem fôlego!!!! O JC é o maior!
Primeiro a cena das escadas...imagino a luz...os vários enquadramentos e a câmara que vem em cima do ombro dele e abre para a rua cheia de sol e pessoas... depois os cortes secos para os bandidos “malvadões”... Ele a desviar-se dos tiros...uma forma Matrix de acção...
A perseguição dos carros...a trilha na minha cabeça esteve fervilhante... (rjam-capricha ia na trilha)...Meu caro Manuel de Jesus...vou repetir o que os outros falaram...vai de férias e volta para escrever mais e mais....
ADOREI
Jinhos

MANUEL JESUS disse...

BIMBA: Matas-me com mimos... Quando Hollywood comprar os direitos da novela, prometo exigir uma cláusula contratual que os obrigue a consultar-te antes da escolha do realizador.

Anónimo disse...

Bimba: Que lamechices.......

Manel: Hollywood???

MANUEL JESUS disse...

ANÓNIMO: Comigo é tudo em grande!

Anónimo disse...

Até o SNOBISMO..............