quinta-feira, 8 de maio de 2008

"CRIME EM LINDA-A-VELHA CITY" - CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 15
JC FICA MILIONÁRIO E UM POUCO EXCÊNTRICO

“Um milionário deve sempre viver um pouco além das suas posses - para manter a credibilidade”
Aristóteles Onassis

Despertado para a vida activa ao serviço da Killing Quickly, Inc., JC pretende agora saber como conseguiu sobreviver, órfão de pai e mãe de acolhimento, no ambiente hostil de Linda-a-Velha City (afinal, o autor decidiu voltar ao assunto e esclarecer os leitores. É um gajo porreiro!)
E a equipa da Killing Quickly, Inc. também vai ser baril e satisfazer a curiosidade de JC.
Com efeito, JC foi devidamente observado e acompanhado, ao longo de todos estes anos, por alguns agentes (chamados “in spot controllers”) da Killing Quickly, Inc.
A corporação tinha de proteger o seu investimento em Linda-a-Velha City. E monitorizava JC à distância, através dos relatórios periódicos dos “in spot controllers”.
Claro que a verdade deixou JC bastante magoado.
As constantes atenções que algumas pessoas lhe dedicaram, ao longo da sua vida pessoal e académica, afinal não eram gratuitas. Eles eram agentes da corporação.
E a entrada em cena de cada novo “protector” representava a sucessiva remodelação do guarda-roupa, a continuidade da despensa cheia e o pagamento das despesas domésticas.
Ele estranhava as atenções destes benfeitores e as contas sempre em dia, mais via-os como pessoas preocupadas com o bem-estar de um jovem que lutava pela vida, sem o auxílio da família, e até lhes chamava tios.
JC também não compreendia os olhares suspeitos lançados pelos colegas e algumas bocas fininhas, outras nem tanto, que circulavam por Linda-a-Velha City.
- “O gajo anda sempre com miúdas giras, mas é como o Trabant, que só pega de empurrão”… - diziam os colegas de escola.
- “Não acham que o rapaz tem um piquinho a azedo?” – comentavam os vizinhos.
- “O fulaninho nunca me enganou…” – rosnavam os outros todos.
Sempre que interpelava os “tios” sobre estas bocas, eles apressavam-se a desvalorizar o assunto e remetiam tais comentários para a secção das más-línguas.
Já na universidade, era o único estudante que usufruía do apoio de uma assistente pessoal, também agente da Killing Quickly, Inc., que o ajudava nos trabalhos académicos e assegurava outras tarefas mais privadas no “campus”, o que JC percebia como um serviço exclusivo, prestado gratuitamente pelo MIT Panamá ao melhor aluno do curso.
Esta assistente carregava-lhe os livros e as sebentas, garantindo-lhe também cama, mesa e roupa lavada, entre outros prazeres da vida, que não vêm agora ao caso.
Mas o que verdadeiramente chocou JC foi saber que as várias namoradas que teve estavam na lista de pagamentos da corporação.
- E eu que pensei que era só amor...
Triste, JC faz uma revisão mental das suas paixões.
A parisiense Sophie, ruiva, de intensos olhos negros, tornou-o sofisticado. Foi com ela que aprendeu a comer escargots, a apreciar foie-gras e champanhe, introduzindo-o também no mundo da moda. É a ela que deve a sua primeira experiência sexual, numa barcaça atracada na margem do Sena, numa noite de Verão.
Com a sueca Úrsula, uma bela loira de olhos azuis e corpo maravilhosamente esculpido, aprendeu as virtualidades da social-democracia, a prática do esqui em algumas temporadas passadas em Vasterbotten, as delícias da sauna e dos consequentes mergulhos nos rios gelados, que o tornaram num homem rijo.
A russa Irina, mulher possuidora de um forte ímpeto sexual, mostrou-lhe as regras de etiqueta a cumprir em festas orgíacas, deu-lhe a provar o melhor caviar e fê-lo apreciador de vodka gelada. Educou-lhe o gosto pela arte em frequentes visitas ao Hermitage. JC recorda com satisfação a queca que deram atrás da estátua de Adriano.
A sua relação com a morena espanhola Carmen foi a mais tórrida de todas. A bela mediterrânica mostrou-lhe todos os truques do sexo, em sessões intensivas, apenas interrompidas para tapear e assistir a touradas.
A sua mais recente namorada, uma berlinense gótica, sempre vestida e maquilhada de preto, passava o tempo a ler Lord Byron e Baudelaire e a ouvir música pós-punk. O sexo era apenas ocasional, mas ele apreciava muito o toque da sua pele pálida. Os escritores e músicos góticos é que não lhe davam grande pica.
- Lá que estou chateado, estou. Mas os tipos da Killing Quickly, Inc. sabiam escolher gajas – acaba por reconhecer JC.
Com o doutoramento concluído, JC começou a ver transferida mensalmente, para a sua conta bancária, uma quantia justificada como rendimento mínimo garantido, mais tarde como subsídio de desemprego, sem preencher qualquer papelada, sem alguma vez ter estado empregado e sem ser obrigado a deslocar-se periodicamente ao Centro de Emprego da área de residência.
Explicam-lhe agora que esse rendimento também foi garantido pela corporação.
E também que existe uma conta em seu nome, John Clone, no Banco de Macau, onde a Killing Quickly, Inc. depositou mensalmente um salário, desde 13 de Março de 1998, dia em que foi recrutado formalmente pela corporação.
Claro que, na condição de “adormecido”, JC não tinha direito ao subsídio de risco e a despesas de representação.
- Mas está lá uma boa maquia – informa George Schrek.
- Quanto?
- Faz as contas. Vinte mil dólares por mês. Estamos em Maio de 2008. Portanto, 18 dias de Março de 1998, mais 9 meses desse ano, mais 12 meses vezes 8 anos, entre 1999 e 2007, mais 5 meses de 2008, mais os duodécimos dos subsídios de Natal e de Férias…
- 2 milhões e 773 mil dólares e 45 cêntimos, mais juros… F…se! Estou rico! Empresta aí o telemóvel para eu ligar a um colega de escola.
JC digita no telemóvel 91491… (era só o que faltava, ficarem a saber o número do Bugalho).
- Nandinho?
- Nandinho o c… que te f… quem és tu meu palhaço?
- O JC, pá, o teu colega do liceu.
- Ah, o Trabant! Diz lá meu.
- Um dia ainda me hás-de explicar porque é que me chamavam isso… Mas vamos ao que interessa. Lembro-me sempre de ti a estacionares uma bruta Suzuki amarela à porta da escola, com as miúdas todas malucas à tua volta…
- Confesso que o amarelo é um bocado rabeta, mas dava tesão às miúdas. O que é que queres?
- É que eu fiquei rico e queria comprar um motão.
- Tens preferência por alguma marca?
- Já tive uma Kawasaki, mas não me dei bem e até levei um par de chapadas. Gostava de mudar de marca.
- Se queres a minha opinião, o que está a dar agora para engatar garinas é a Suzuki Boulevard M109R, 1.783 c.c.
- Eu quero em amarelo!
- Não há (desculpa lá Nandinho!), mas escolhe a cor de laranja. Vais bem servido.
- Obrigado amigo, um dia destes vamos tomar um copo para recordarmos os belos tempos.
Desligado o telefone, JC volta à conversa com os colegas da Killing Quickly, Inc.
Estes informam-no, então, que o acesso à conta do Banco de Macau só pode ser feito presencialmente. O código está num cofre, juntamente com os documentos de identificação de JC. A chave está na posse de um outro agente da corporação, infiltrado no aeroporto daquela região administrativa especial chinesa.
- Mas se os documentos estão num cofre no Banco de Macau, como é que o meu cartão da Killing Quickly, Inc. estava na carteira do Manny?
- Quem é esse gajo que eu f…-o já? – pergunta o armário.
(Não te ponhas a pau comigo que mando-te em missão para o Sudão e podes ter a certeza que não é para mergulhar com o Quincas – comenta o autor).
- Mas, afinal, vocês acordaram-me para uma missão…
- E que tal se te contássemos depois do almoço? Já tenho um buraquinho no estômago – diz o armário.
- McDonald’s – exclama Longknife.
- É isso mesmo. Estou um bocado enjoado do bacalhau – comenta Schrek.
- Fiquei zonzo com tudo o que me contaram. Preciso de reflectir um pouco, preciso de um momento zen – pede JC.
Os três elementos da equipa avançada da Killing Quickly, Inc. vão almoçar ao McDonald’s, enquanto JC tira um livro da estante e desce a rua, para alguns momentos de reflexão no banco do jardim da majestosa praça central de Linda-a-Velha City.
E que livro levava JC debaixo do braço? E onde é que fica a majestosa praça central da bela cidade? Isso fica para o próximo capítulo.
TO BE CONTINUED…

4 comentários:

RJAM disse...

Sim senhor, o Bugalho esteve bem (desculpem, o Nandinho). E o agente infiltrado de Macau será um alto funcionário do aeroporto?
E onde fica o Mcdonald de LA Velha?
Manel, desta vez não fizeste nenhuma referência a música e, sendo assim, vou escolher uma ao meu gosto. Fixe!

Fernando Bugalho disse...

Pois, essa do Nandinho...

Mas enfim, o que vale é que eu reagi à altura (segundo o autor).

O Mcdonald de LA Velha não era uma gelataria ali para os lados do mercado de LA Velha ? Até tinha uma pessoa aí muito assidua que queria ganhar o Rally de Portugal (ai e tal era jovem...)

Anónimo disse...

olha...essa história está ficando muuuuuuito interessante...
essas raparigas todas....é muito conhecimento....muita informação...muita experiencia...
mas a pergunta se repete :
Onde é o Mc de LA Velha???
jinhos

MANUEL JESUS disse...

McDonald's de LA City? Com essa é que vocês lixaram o Manny González...